São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995
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HIV duplica-se mais rápido que esperado

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O HIV, vírus causador da Aids, duplica-se em um organismo infectado muito mais rapidamente do que se imaginava.
Cientistas da Universidade de Alabama (EUA) acreditam que esse novo fato pode agilizar o desenvolvimento de um remédio eficaz contra a doença, pois cristaliza o conhecimento sobre os mecanismos utilizados pelo vírus.
A nova frente de ataque ao vírus abriu-se depois que os pesquisadores descobriram que o sistema imunológico continua trabalhando ativamente. Até então, pensava-se que a doença tolhesse sua ação. O estudo foi publicado na publicação científica "Nature" de hoje.
"Nós já suspeitávamos que o HIV se replicasse rapidamente, mas não tínhamos idéia do grau real dessa replicação", disse Michael S. Saag, um dos cientistas envolvidos no estudo.
Segundo Saag, 30% dos vírus que estão na corrente sanguínea de uma pessoa infectada em um dado dia não estavam lá no dia anterior.
"Isso nos diz que nossa agenda de pesquisa deve concentrar-se em intervenções mais rápidas e agressivas. Como sabemos que a replicação é tão rápida, podemos verificar se uma droga está valendo alguma coisa ou não num espaço de três a seis semanas, o que acelerará o seu desenvolvimento", disse o pesquisador.
O problema da Aids não seria, então, um sistema imunológico inibido e sim um sistema sobrecarregado pela necessidade de evitar que os níveis do vírus fiquem fora de controle, além de repor as células destruídas pela ação dos invasores.
A infecção do HIV é um processo extremamente dinâmico, que implica em contínuas rodadas de infecção das diversas gerações do vírus e uma rápida produção de células novas.
Imaginava-se que a infecção do HIV era produzida por um conjunto de células cronicamente infectadas, que produziam mais exemplares do vírus, além de células latentes infectadas que seriam ativadas depois de um longo período de dormência.
A nova visão aponta que, além das células cronicamente infectadas, os pacientes soropositivos carregam células suscetíveis que produzem pelo menos 110 milhões de partículas do vírus por dia.
Essa produção maciça de novos vírus pede que sejam criadas, a cada dia, cerca de dois bilhões de novas células, em reposição às destruídas durante a reprodução do HIV.
O sistema imunológico do hospedeiro procura também destruir as células em estado de latência, antes que elas liberem novas gerações do vírus. Esse excesso de trabalho seria o responsável pelo sobrecarregamento do sistema.
Vírus comum
A equipe de David Ho, pesquisador do Centro de Pesquisa em Aids Aaron Diamond, da Universidade de Nova York, apresentou resultados semelhantes baseados num trabalho com uma nova droga experimental.
Simom Wain-Hobson, do Instituto Pasteur (França), onde foi descoberto o vírus da Aids, disse que estes resultados mostram que o HIV está se comportando cada vez mais como um vírus comum, sem "efeitos especiais". "Ele é único e sutil, mas não é nada além de um vírus", disse.

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