São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995
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Bebê de mãe morta escandaliza Vaticano

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A Igreja Católica considerou "monstruosa" a tecnologia usada para que uma criança nascesse dois anos depois da morte de sua mãe biológica.
"É monstruoso congelar embriões como se fossem objetos e usá-los quando surgir a necessidade", disse o teólogo Gino Concetti no jornal do Vaticano "L'Osservatore Romano".
O cardeal Ersilio Tonini considera que o caso é "um ato desonrado, por que produz a vida em vez de gerá-la".
Já a ganhadora do prêmio Nobel de Medicina, Rita Levi-Montalcini, acha que "se tratou de um ato de grande generosidade: um desejo de maternidade truncado por uma morte precoce revive graças ao amor dos parentes. Não é imoral".
A criança, chamada apenas Elisabetta, para proteger sua identidade, foi produzida a partir da um entre quatro embriões estocados em uma clínica de Roma.
O pai do bebê, identificado como Enrico ou Luigi pela imprensa italiana, pediu à sua irmã para engravidar com um óvulo de sua mulher morta fecundado por ele.
A mulher, também chamada Elisabetta, não podia ter filhos e morreu com 31 anos de idade em um acidente de carro no Natal de 1992, depois que uma tentativa de implantar um óvulo fertilizado em tubo de ensaio fracassou.
Dois anos depois o marido, de 36 anos, convenceu sua irmã Elena, de 33, a receber um dos embriões. Ela se tornou, além de tia, mãe da menina.
Elena já é mãe de uma criança de seis anos e deu à luz Elisabetta, de 3,15 kg, na semana passada.
O caso causou um grande impacto no país onde pelo menos uma clínica usou técnicas de fertilização "in vitro" para permitir que várias mulheres tivessem filhos depois da menopausa.
O ginecologista que implantou o embrião, Pasquale Bilotta, 42, defendeu a operação, dizendo que a ciência deu uma vida a alguém.
Giovanni Berlinguer, ex-presidente do Comitê Italiano de Bioética, diz que não se deve condenar radicalmente o caso de Elisabetta, mas censura Bilotta por ter difundido a notícia.
"Com isso ele colocou em risco o anonimato dos protagonistas e a tranquilidade dos que recorrem à fecundação artificial", diz Berlinguer.
Mas, pela lei italiana, o pai legal poderá retirar a paternidade em até um ano, e mãe legal poderá fazer o mesmo em até seis meses. O pai biológico poderá impugnar o reconhecimento do pai legal a qualquer momento.
A legislação da maioria dos países europeus proíbe a gestação de um óvulo fecundado quando um dos pais biológicos está morto.
A psicanalista Silvia Vegetti Finzi acha que Elisabetta terá problemas quando for revelada a verdade sobre sua origem.

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