São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995![]() |
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Thomas sai do 'escuro' e abraça a comédia
NELSON DE SÁ
Em entrevista, o diretor repudia o teatro "difícil", "denso", "escuro" e abraça a "comédia rasgada". Gerald Thomas chega a questionar a Trilogia Kafka, que ele mesmo criou no fim dos anos 80, afirmando que "aquilo não tem valor nenhum". Ele atinge os 40 anos dizendo que dá "muito valor ao que é brasileiro" e fazendo elogios aos atores populares, como Ney Latorraca e Regina Casé, que "têm que voltar a figurar como mais importantes" que os diretores. Folha - A peça é uma comédia? Gerald Thomas - Como toda boa peça, é um meio-termo entre tudo. Mas com o Ney Latorraca no papel principal ela não tem como não ser uma comédia. Folha - Ney Latorraca é o oposto do seu teatro, ou não? Thomas - Por quê? Folha - Ele vem de "O Mistério de Irma Vap". Ou você está mais aberto para um tipo de teatro cômico, rasgado? Thomas - Eu acho que é o que você mesmo dizia, na crítica do "Império das Meias Verdades" e do "Flash and Crash", que é uma comédia que está virando rasgada. Cada vez mais. É uma coisa que eu me permito fazer porque já provei o outro lado também. O lado (simulando dor) denso, difícil. O mundo sério, ele só convence aos infantilóides. O mundo cômico, ele é para os pragmáticos mais educados. É mais sofisticado. A comédia é uma forma muito mais sofisticada do que o drama. O drama é... As grandes religiões pentecostais são dramáticas. Esses que aparecem domingo de manhã, com a Bíblia na mão, são todos dramáticos. A Trilogia Kafka era pentecostal. E o infantilóide, o filhinho de papai, ele vai e se emociona com aquilo, porque aquilo é difícil, aquilo é denso, aquilo é escuro. Aquilo não tem valor nenhum, é uma besteira. Folha - Não era o que você pensava, então. Thomas - Claro que eu também levava a sério quando fazia, mas eu era mais imaturo do que hoje. Mas quem ainda reside nisso é filhinho de papai. Então, o Ney não é o oposto. Ninguém que seja ator pode ser considerado como vindo de uma outra forma de teatro. É tudo teatro. Eu trabalharia muito bem com Jorge Dória, eu trabalharia muito bem com Tarcísio Meira, como trabalhei muito bem com Tônia Carreiro, como trabalhei muito bem com Fernanda Montenegro, sobre quem em princípio você pode dizer, "mas o que que tem a ver". Em princípio não tem nada a ver, mas ao mesmo tempo, quando é palco, combina. E o Ney é uma figura cujo humor vem da tristeza. O humor dele não vem da trivialização. O humor dele vem do desespero, vem da solidão, vem de uma necessidade de saber mais do que ninguém. Não tem nada de diferente. LEIA MAIS Sobre "Don Juan" à pág. 5-5. Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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