São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995
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Palavras de Cavallo

Em várias oportunidades nos últimos meses, o ministro argentino Domingo Cavallo lançou farpas sobre a economia brasileira, tida como o "patinho feio" da América Latina. O quadro mudou, e agora Cavallo insiste na qualidade intrinsecamente maior tanto da economia argentina quanto da brasileira, em contraponto à mexicana.
É um esforço de persuasão notável, talvez até mais louvável que os anteriores. Mas ainda é cedo para avaliar a capacidade que os investidores estrangeiros terão de diferenciar entre as várias economias latino-americanas. Até agora elas foram solidárias na alta e na baixa.
A economia brasileira atraiu recursos externos em 93 e 94, apesar da instabilidade inflacionária e política. E os perdeu nas últimas semanas, naufragando junto com México e Argentina, apesar de agora contabilizar tantas vantagens comparativas, macro e microeconômicas.
O único fato indiscutível e comprovado, com a crise mexicana, é a extrema sensibilidade dos mercados locais aos capitais globalizados. Mas, se os mercados estão interligados, o efeito que a fuga de capitais pode ter em cada economia varia –e nisso reside talvez a maior vantagem do Brasil no momento atual.
Seja pelo volume de reservas internacionais, seja pela dependência externa bem menor do governo, cuja dívida pública é predominantemente local, o impacto da crise no Brasil é menos grave. Na Argentina, e principalmente no México, a estabilização passou por uma dolarização muito mais extensiva da dívida pública. Ou seja, a fuga de capitais pode ser equivalente, no limite, à quebra do Estado.
De outro lado, não é segredo que a plataforma do governo FHC apontava para a captação de recursos externos como uma das principais alavancas da estabilização e do crescimento econômico nos próximos anos, em particular através da aceleração das privatizações.
Se os investidores conseguirem aos poucos diferenciar entre as maiores economias da América Latina a ponto de privilegiar o Brasil, o projeto FHC sairá relativamente incólume da atual crise financeira latina. Se, ao contrário, prevalecer a confusão, o custo da estabilização será maior. E a retomada do desenvolvimento será mais lenta.
Resta portanto torcer para que, desta vez, Cavallo tenha razão.

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