São Paulo, quinta-feira, 12 de janeiro de 1995
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O grande ausente

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

Até aqui as manifestações mais enfáticas do PT em relação ao governo Fernando Henrique Cardoso foram o encantamento do casal Matarazzo Suplicy com a festa da posse e algumas acusações de "traição" ao ministro da Cultura, Francisco Weffort.
É risível, para um partido que nas duas últimas eleições disputou a Presidência da República e que, há três meses, se apresentava à sociedade como portador de um projeto de reformas capaz de gerar milhões de empregos, mudar a estrutura fundiária, sanear os costumes políticos e distribuir a renda.
É verdade que o PT não entendeu o que estava acontecendo. Cometeu erros de avaliação clamorosos e pretendeu enfrentar os problemas do país com um receituário arcaico, assumindo uma atitude política típica de um partido, como é, nascido no enfrentamento do autoritarismo, mais habituado à negação do que à proposição.
Acontece que o jogo já acabou, a roleta está começando a rodar novamente e as fichas do PT não aparecem na mesa. Embora o panorama possa parecer desolador para os derrotados, as perspectivas que se abrem não poderiam ser mais propícias para uma intervenção oposicionista consistente.
Se um largo consenso vai se consolidando em torno das linhas gerais que balizam a estabilização das economias periféricas –ou "emergentes", como virou moda–, o fato é que quase tudo ainda está por ser feito. E, desde já, numa conjuntura internacional diversa daquela em que FHC foi eleito –claramente pela eclosão da crise mexicana, mas também pela virada republicana nos EUA.
Em certo sentido, a quebra e os problemas do México são uma boa nova para o Brasil. Por mais que se acentuem as diferenças entre os dois países, o fato é que, até que a insustentável leveza do peso se manifestasse, o México seguia como uma confirmação do receituário a ser seguido pelas "economias emergentes" da América Latina no caminho da "globalização".
A crise mexicana acontece quando o Brasil se prepara para promover os famosos ajustes e reformas que vão garantir sua integração no reino maravilhoso do capitalismo pós-moderno.
O modelo nacional-desenvolvimentista, o populismo, a substituição de importações e o Estado tutor se esgotaram? Sim. É preciso dotar o sistema de racionalidade e eficiência? Sim. É preciso privatizar? Sim. É importante reduzir o chamado "custo Brasil"? Também sim. Mas tudo isso pode ser feito de formas e formas diferentes.
Que reforma tributária será feita? Que reforma agrária teremos? Que sistema previdenciário será criado? Que mecanismos de regulação do mercado irão vigorar? Que prioridades de investimento serão privilegiadas, as que geram empregos ou as intensivas? Que política cambial deve ser adotada?
São questões que estão na pauta e que, em um mês, com o início dos debates da reforma constitucional, estarão começando a moldar as novas feições do país. O que o PT tem a dizer a respeito? Vai insistir que é tudo "maracutaia" das elites, vai ficar de férias na fazenda ou vai se apresentar com propostas consistentes para a nova etapa que se inaugura?

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