São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
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Pesquisa revela fraude em remédios naturais

GILBERTO DIMENSTEIN; ALEXANDRE SECCO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Uma pesquisa do Instituto Adolfo Lutz de São Paulo com 74 remédios naturais para emagrecimento, vendidos livremente em farmácias, constatou fraudes em 50% das amostras. Os nomes dos remédios não são revelados.
As fórmulas alteradas têm substâncias químicas perigosas para a saúde, como anorexígenos e benzodiazepínicos. Essas substâncias atuam no sistema nervoso central.
Além de revelar as fraudes na formulação dos medicamentos naturais a pesquisa conclui: "Não se conhece nenhum estudo avaliando a eficácia de tais preparações".
O estudo do Adolfo Lutz sobre os medicamentos naturais para emagrecer faz parte de um dossiê preparado pelo novo secretário da Vigilância Sanitária, Elisaldo Carlini.
O dossiê reúne investigações realizadas pelas faculdades de Farmácia de São Paulo, Minas Gerais e Pernambuco sobre a fabricação de remédios largamente consumidos no Brasil. Foram detectadas fraudes até em antibióticos.
A Secretaria de Vigilância Sanitária, do Ministério da Saúde, prepara o recadastramento de todos os laboratórios farmacêuticos do Brasil, por suspeitar da qualidade dos produtos.
Através de uma pequena amostragem de produtos, ficou comprovada, segundo Carlini, a necessidade de uma ampla investigação no setor farmacêutico.
Os pesquisadores da Faculdade de Farmácia da Universidade de São Paulo, Andrejus Korolkovas e Toshio Haraguchi, analisaram remédios de laboratórios diferentes (não citam os nomes), vendidos como tranquilizantes, analgésicos e antiinflamatórios.
A conclusão do texto: "As fórmulas de três especialidades farmacêuticas largamente consumidas no país não correspondem às indicadas na embalagem."
Os componentes são inferiores aos indicados. Classificam a fraude de "atentado à saúde pública".
Os antibióticos antiinflamatórios, por exemplo, tinham apenas 10% da tetraciclina indicada na bula. O que significa dano óbvio ao paciente.
Remédios à base de tetraciclina mereceram estudo de três professores da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (Gerson Pianetti, Aguiar Nuna e José Maciel Rodrigues Jr). As cápsulas foram retiradas de farmácias de Belo Horizonte.
Os três professores decidiram fazer a pesquisa, alegando, segundo o texto, a "ineficiência dos órgãos de fiscalização".
A conclusão do trabalho: " Três dos seis produtos se apresentaram com teor e atividade abaixo dos limites específicos, e um outro, apesar do teor especificado, apresentou atividade baixa". Ou seja, estão fora da fórmula anunciada.
Carlini anexou investigação da Universidade de Farmácia de Pernambuco, coordenada pelo professor Haroldo Xavier, nos remédios à base de alcachofra. São apresentados como bons para o fígado, emagrecimento e cura da ressaca.
Os remédios analisados não possuíam sinal da planta. A matéria-prima adquirida pelos laboratórios chegava sem qualidade. O professor alerta que poucos laboratórios realizam testes nas matérias-primas.
Carlini dividiu a fiscalização em duas fases. A primeira será a vistoria dos laboratórios e, segundo ele, acabará antes deste semestre. A segunda fase consiste em, através de convênios com universidades, aumentar o número de remédios vistoriados para testar sua qualidade.

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