São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
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BC volta a incentivar exportações

GUSTAVO PATÚ; LILIANA LAVORATTI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A crise econômica do México fez o Banco Central extinguir ontem o arrocho sobre a principal fonte de crédito para as exportações, o ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio).
A medida deverá reverter os saldos comerciais negativos que o país registra desde novembro.
Segundo a Folha apurou, a intenção do governo é recuperar a entrada de dólares no país através de operações comerciais. Há o temor de que uma sequência de déficits comerciais faça o mercado internacional associar a situação brasileira à mexicana.
A crise no México foi impulsionada pela fuga de divisas. A queda das exportações mexicanas, provocada pela valorização do peso mexicano em relação ao dólar, ajudou a reduzir o volume de reservas daquele país.
Desde o Plano Real, a nova moeda brasileira vem se mantendo valorizada em relação ao dólar.
Em outubro, dois meses antes de estourar a crise mexicana, o BC criou um recolhimento compulsório de 15% sobre o valor de cada ACC. Este compulsório foi revogado ontem.
O recolhimento havia sido estabelecido como uma medida dura para desestimular as exportações. Na época, a equipe econômica argumentou não haver necessidade de o país continuar produzindo grandes superávits comerciais, porque as reservas em dólar do BC já eram suficientes.
Os ACCs eram então os principais instrumentos utilizados pelos exportadores para se financiarem. Recebendo antecipadamente os dólares de uma operação, as empresas aplicavam o dinheiro no mercado financeiro e compensavam a desvalorização do dólar.
Após o arrocho sobre os ACCs, combinado com incentivo às importações, a balança comercial brasileira foi negativa pela primeira vez desde o Plano Cruzado (1986), em novembro, e houve novo resultado negativo em dezembro, segundo dados preliminares do Ministério da Indústria e Comércio.
Oficialmente, a equipe econômica não relaciona a revogação do compulsório sobre os ACCs à crise mexicana. "Esta análise só pode ser feita devido à coincidência das duas coisas", disse ontem o diretor de Assuntos Internacionais do BC, Gustavo Franco.
Ele argumentou que a redução do compulsório sobre ACCs é parte da redução promovida pelo governo de todos os compulsórios, com os criados sobre depósitos à vista e a prazo.
Nos outros dois casos, porém, o governo apenas diminuiu os percentuais do recolhimento, com pouco impacto sobre a economia. Já o compulsório sobre ACCs foi totalmente eliminado.
Técnicos do BC prevêem a recuperação dos saldos comerciais a partir de fevereiro ou, no máximo, de março. Neste mês, o volume físico de importações ainda deverá superar o de exportações.
Novas medidas de incentivo às exportações são estudadas pelo BC, mas não terão impacto tão forte quanto à revisão do compulsório sobre ACCs.
O mercado espera, por exemplo, o alongamento dos prazos permitidos para os ACCs, que passaram de 180 dias, até outubro, para 90 dias no máximo.

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