São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
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Paula festeja tri com pizza e pastel

EDGARD ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A ala-armadora Paula é tricampeã paulista. Havia ganho os dois títulos anteriores consecutivos com a Nossa Caixa-Ponte Preta, de Campinas, e conquistou o terceiro, anteontem à noite, pela Cesp-Unimep, de Piracicaba.
Paula, 32, 1,74 m de altura, foi a cestinha das finais. Sua precisão nos arremessos garantiu 83 pontos nas três vitórias contra sua ex-equipe.
Para azar da Nossa Caixa, coube a Paula quatro lances livres após empate em 100 pontos no terceiro jogo da série melhor de cinco, em Campinas. Ela acertou três. A Cesp ganhou por 103 a 100.
Durante a noite, a Cesp comemorou a vitória em uma pizzaria, com chope e pagode. Ontem à tarde, antes de a equipe desfilar em carro aberto no centro de Piracicaba, Paula falou sobre a conquista.

Folha - Depois do Mundial, qual é a sensação da conquista do título paulista?
Paula - Tudo foi um desafio. Saí de uma equipe supervencedora (Nossa Caixa) para ajudar na formação de uma nova equipe em Piracicaba. O objetivo era chegar às finais, o que consegui em todos os times que participei.
Folha - Já se adaptou na função de ala?
Paula - Esse foi outro grande desafio. Acho que fui bem. A função exige que eu corra muito mais, que tenha velocidade, que arremesse bem. Tudo influiu na conquista do título.
Folha - Qual foi a sensação de voltar a ser campeã por Piracicaba, onde vive sua família?
Paula - Cada título tem um sabor, uma história diferente. Para mim, foi uma satisfação voltar a Piracicaba e ajudar a fazer um time vencedor em oito meses. Depois de nove anos, Piracicaba voltou a ser campeã, está animada, comemorando junto. Sua tradição no basquete está resgatada.
Folha - Você teve medo de errar os lances livres que garantiram o título no último jogo?
Paula - Foi o jogo que me senti mais segura. Não tinha certeza da vitória, mas joguei consciente e tranquila. Naquele momento, eu acreditei que acertaria os lances.
Folha - O que você achou da mágoa da torcida de Campinas?
Paula - Eu vivo num país democrático, posso escolher meu time, falar e pensar. Tenho que escolher um lugar onde me sinta feliz. Não estava assim em Campinas. Lá, o time estava mudado, diferente. Faltava humildade. Procurei um novo rumo.
Quanto à reação do público, acho normal. Mas não gostaria de falar disso. Fui respeitada e sei que lá muitas pessoas me admiram. Minha saída de Campinas foi positiva para o basquete, que estava perdendo porque a Nossa Caixa um time era imbatível.
Folha - Você ficou surpresa com três vitórias contra a Nossa Caixa nas finais, duas delas na casa da adversária?
Paula - Não sei se fiquei surpresa, mas não seria uma previsão lógica. A equipe da Nossa Caixa é igual a nossa. A vitória por 28 pontos na estréia talvez tenha desestruturado a Nossa Caixa. A gente contava com a hipótese de perder dois jogos em Campinas e voltar para decidir em Piracicaba.
Folha - Qual foi o momento mais importante desta decisão?
Paula - Para nós, contou muito a semifinal, quando corremos o risco da eliminação. Perdemos dois jogos para a Lacta/Santo André. Reagimos. Aqueles confrontos deram um alento diferente. Tivemos que nos dedicar mais, aumentar o espírito competitivo.
Na verdade, creio que começamos a ganhar o título contra a Lacta. Entramos contra a Nossa Caixa já em ritmo de decisão. A Nossa Caixa teve uma semifinal tranquila (3 a 0 contra Guaru) e criou hábito diferente.
Folha - Voltar a trabalhar com o técnico Antônio Carlos Barbosa foi importante?
Paula - Quando trabalhei com ele a primeira vez, tive até desavenças. Eu era criança. Ele é duro, enérgico. Nos reencontramos agora. Ele também é um treinador com outra visão da vida e do basquete. Hoje dá mais valor ao trabalho como técnico de basquete.
Acho que ele conseguiu fazer com que a equipe trabalhasse tranquila, sem problema. Conversava com todas as jogadoras, entendia os problemas. Dosou bem o treinamento, deu folgas.
Ele estava esquecido, enterrado para o basquete e foi resgatado. Tem méritos e fez da Cesp um time forte. Pode ser que outros estejam longe, como ele estava, e precisem ser lembrados.
Folha - Como foi a comemoração?
Paula - Foi no Ponto 71, um restaurante de Piracicaba, onde sempre fizemos nossas refeições durante as finais. Teve chope, cantoria e pagode.
O restaurante oferecia uma pizza para a jogadora que fizesse o ponto 71 nos jogos. A Jacqueline ganhou várias. No último jogo, a Marta fez uma cesta de três e saltou do 69 para o 72.
Cheguei em casa às 7h, depois de ter ido comer pastel no Mercadão. O pessoal abria as bancas e as verduras estavam chegando.
Folha - Você sente que dá para jogar quanto tempo mais?
Paula - Do jeito que estou, mais três anos. Enquanto me sentir útil e com prazer, sigo com a carreira.
Folha - A seleção continua fora dos seus planos?
Paula - Continua. A princípio, não tem volta.
Folha - Sem você e a Hortência, a seleção perde muita força. Não era hora de vocês se unirem, pelo menos para jogar a Olimpíada, já que ajudaram a classificar o Brasil?
Paula - Temos dois anos. Não sei o que vai acontecer. É a chance de as novas assumirem, jogarem mais e ganharem experiência. Não dá para falar de Atlanta, é cedo.
Folha - O que falta para você concluir que sua carreira está completa?
Paula - Não está completa. Se isso fosse verdade, era melhor parar, pendurar o tênis. Já penso nos próximos campeonatos. Enquanto isso, vamos curtindo essa vitória do Paulista, que é o campeonato mais importante do Brasil. Teremos a partir do próximo dia 23, em Apucarana, no Paraná, a Taça Brasil, que encerra a temporada.
Folha - Você é a favor do ranqueamento de jogadoras em São Paulo?
Paula - Sou a favor desde que haja estrutura, patrocínio para todo mundo. Sem isso, é impossível. Essa é a dúvida. As jogadoras não podem ser prejudicadas e devem ser ouvidas, opinar.
Folha - Você está fazendo um vídeo sobre basquete e terá a carreira esmiuçada em livro. O que será contado neste livro?
Paula - O vídeo foi iniciado nesta última partida. É mais técnico. O livro é uma homenagem que a Unimep faz para mim e vai me dar de presente. Fala sobre minha vida, mas nada de sensacionalismo. Quero passar minha experiência para os jovens. Sai em junho.
Folha - A grife Paula tem novidade?
Paula - Estamos indo bem (Paula tem parceria com a Dharma, indústria de material esportivo de Franca). Vamos incrementar mais este ano, buscando o Norte e o Nordeste, onde tenho público.
Folha - Depois de 20 anos de carreira, você sente que houve recompensa financeira?
Paula - Nos três últimos anos, passei a cuidar mais do lado financeiro. Estou satisfeita. Já deixei de ganhar muito dinheiro.
Folha - Você acha que as empresas estatais devem apoiar o esporte?
Paula - Acho que sim. O esporte precisa de base, os jovens precisam ter espelho. As estatais devem apoiar as categorias menores. As estatais deram um avanço nestes últimos dois anos. São importantes para o desenvolvido esportivo.
Folha - O que você mais espera do Pelé como ministro extraordinário do Esporte?
Paula - Sendo ele um ex-jogador de futebol, que não se preocupe só com futebol e veja com carinho outros esportes e o trabalho de base, com os jovens. Que não pense muito em Copa do Mundo e Olimpíada.

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