São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Dálmatas' mantém frescor desde 1961

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: 101 Dálmatas ("101 Dalmatians")
Produção: EUA, 1961
Direção: Wolfgang Reitherman, Hamilton S. Luske e Clyde Geronimi para os estúdios Disney
Onde: a partir de hoje nos cines Paulistano, Vitrine, Studio Alvorada 2 e Cal Center 3

Entre os mais bem-sucedidos clássicos de Walt Disney, este tem uma particularidade: é ambientado no presente (leia-se: início dos anos 60), tem personagens comuns e prescinde totalmente de acontecimentos mágicos ou sobrenaturais.
Sua história é conhecida: os 15 filhotes de dálmatas do casal Pongo e Brenda são roubados em Londres por Cruela Cruel (Malvina Cruela, na história em quadrinhos), que os junta a outros 86 num castelo abandonado. Seu objetivo: usar seus pêlos para um casaco de peles.
Uma das boas idéias do enredo é fazer com que só os próprios bichos enfrentem (e vençam, claro) a vilã. Os donos de Pongo e Brenda ficam numa posição passiva, só se lamentando e torcendo pela volta dos cãezinhos.
Uma corrente de solidariedade se forma não só entre os cachorros, mas também entre outros animais da região –cavalo, gato, ganso– para localizar e recuperar os filhotes roubados.
As maiores ousadias estão na caracterização dos personagens. A vilã, por exemplo, não é uma bruxa ou rainha má: é simplesmente uma perua, que veste casaco de peles, fuma com piteira e sai cantando pneus com sua limusine.
Os personagens humanos positivos, por seu turno, são pessoas totalmente comuns, a começar pelo dono de Pongo, Roger, um músico sem trabalho e sem dinheiro. Em torno dele há uma aura de "outsider" característica da época do desenho.
Entre os momentos memoráveis, há a primorosa sequência de créditos iniciais –feita toda a partir de manchas semelhantes às dos dálmatas–, o desfile de mulheres com traços iguais aos de seus cachorros pelas ruas de Londres e as sessões do seriado com o herói canino dos filhotes –um lance de metalinguagem até audacioso para os padrões Disney.
Nas cópias com versão original legendada, a voz de Pongo é do ator Rod Taylor, o protagonista de "Os Pássaros", e a de Cruela é a da atriz de rádio e TV Betty Lou Gerson.
A música de George Bruns deriva claramente do cool jazz da época. As canções, deliciosas, são inevitavelmente prejudicadas na dublagem em português. Nada que tire, entretanto, o prazer de ver ou rever esta pequena obra-prima.
(JGC)

Texto Anterior: Direção careta deixa 'Riquinho' ainda mais sem graça que o gibi
Próximo Texto: John Hughes produz infantil sadomasô
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.