São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
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Centro cultural expõe cinco telas de Aquila

CRISTINA GRILLO
DA SUCURSAL DO RIO

Erramos: 14/01/95
Uma dor no joelho direito perturbou o pintor Luiz Aquila, 51, às vésperas da inauguração de sua exposição "Individual", anteontem à noite no Centro Cultural Banco do Brasil (centro do Rio).
Ansioso com a inauguração da mostra –sua última individual no Rio foi há dois anos–, Aquila se preocupou. "Não costumo ficar doente nem sou de somatizar. Fico nervoso mesmo quando exponho", explicou o pintor, enquanto acertava detalhes da iluminação minutos antes da abertura.
Aquila expõe cinco quadros de grandes formatos –dois de 2,40 m por 2,60 m e três de 1,40 m por 3 m. Mas não foram dois anos parado. Durante o intervalo, participou de várias coletivas.
"Numa coletiva, a sensação de proteção é maior. Você tem como se amparar nos outros. Numa individual, você está sozinho. É estimulante, mas ao mesmo tempo há a sensação de abismo", diz.
"Individual" mostra "quase inéditos". Dois dos quadros estiveram na exposição "Um Olhar sobre o Outro", que Aquila fez em novembro ao lado da mulher, a pintora Monica Barki. Os outros três são mostrados pela primeira vez. "Aquela mostra foi um 'trailler' para esta. Estava com saudade dessa sensação de abismo", diz.
Membro da "Geração 80" (grupo de artistas cariocas reunidos na Escola de Artes Visuais do Parque Lage nos anos 80), Aquila tem se dividido entre a produção artística e a discussão sobre ela.
Seu ponto de vista foi apresentado ao ministro da Cultura, Francisco Weffort, durante uma reunião no Museu de Arte Moderna no Rio há cerca de um mês. Para Aquila, o Brasil não pode se dar ao luxo de ter, dentro das universidades, centros que pensam a arte, mas se afastam da prática.
"Essa distância atrapalha muito os jovens artistas que, por questões financeiras, ingressam na vida universitária e abandonam a carreira. Há no Brasil uma situação esquizofrênica: quem ensina arte está longe da produção", diz.
O pintor defende um modelo similar ao adotado pelas escolas inglesas de artes plásticas, onde estudou nos anos 70. Segundo ele, lá os jovens artistas são contratados para dar aula em tempo parcial.
Com isso, afirma Aquila, a realidade entra na universidade e se quebra a dicotomia entre conceitual e emocional. "Alguns setores 'culturais' têm dificuldade de imaginar que os pintores pensam. Isso não é verdade, não há uma separação entre conceito e emoção."
Aquila se define como um pintor radical –sempre envolvido com telas, tintas e pincéis– e como um admirador de arte.
Mentor de uma geração de artistas plásticos, faz questão de acompanhar novos trabalhos como os da mostra "Espelhos e Sombras" (atualmente num dos salões do Centro Cultural Banco do Brasil e que já esteve no Museu de Arte Moderna de São Paulo).
Na exposição, são usados materiais orgânicos como unhas, frascos de animais conservados em formol, instrumentos cirúrgicos e outros materiais.
"A 'disgusting art' vem desde o dadaísmo e algumas vezes choca os leigos. Mas há também a 'depressão adolescente' dos artistas novos, ainda procurando seus caminhos. Gosto dessa busca", diz.
"Individual" fica até o dia 19 de março. No domingo, dia 15, Aquila e os críticos de arte Frederico Morais e Lélia Coelho Frota farão uma visita-debate à exposição, a partir das 17h.
No final do ano, a mostra será exibida no foyer principal da sede da Unesco em Paris. Depois, as pinturas serão expostas na Galeria Debret, também em Paris.

Exposição: Individual
Artista: Luiz Aquila
Onde: sala B do Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, centro do Rio, tel. 021/216-0237)
Entrada: franca
Quando: até 19 de março, de terça a domingo, das 10h às 22h

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