São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
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Carne de caça no Valette é legal e bem feita

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A comida do Brasil profundo, dos animais silvestres que todos conhecemos somente do folclore, agora pode ser conhecida em São Paulo. Confortavelmente. Legalmente. E até que bem feitinha.
Paca, tatu, cotia, não. Mas cateto, capivara e jacaré, sim. O restaurante não parece nada com um reduto de tradições brasileiras. É o Valette, em Moema, aberto em 1993 com cardápio francês. Além do nome estrangeiro, fica num flat e tem decoração de cores vivas, amplas poltronas e nada de telhadinhos de sapé ou madeira tosca.
Mesmo porque nada disso importa. Importa a ótima idéia dos proprietários –os irmãos Solange, 42, e Murilo Lisboa, 41, ambos pernambucanos, e a mulher dele, a carioca Paula Barbosa, 35.
Eles resolveram enfrentar as dificuldades práticas e burocráticas que envolvem a venda legal de carnes de "caça" no país. No caso, tais animais não são exatamente silvestres (apenas na origem) e nem caçados. Eles são criados com fins comerciais –como a venda do couro (do jacaré) e da carne, que, no caso da capivara, tem grande valor no exterior.
Mas as dificuldades não se restringiam aos problemas de registro no Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). Há os problemas gastronômicos e a dificuldade em achar quem os resolva. Mas o proprietário do Valette conhecia um chef de cozinha com experiência de trabalho na selva.
O paulistano Luiz Marcondes de Toledo, 53, foi, na virada dos anos 60, durante a construção da Transamazônica, cozinheiro na chamada mansão Uruá, posto avançado das mordomias na selva, onde eram recebidos empreiteiros e militares em grandes festas.
Agora, no Valette, é Toledo quem prepara duas versões do cateto (que tem certa semelhança física com os suínos, mas uma carne vermelha mais próxima dos ovinos). Ele vem assado e fatiado, servido com seu molho e arroz, farofa e mandioca; ou em pedaços refogados e ensopados com feijão branco.
A capivara (com a carne infelizmente um pouco ressecada) pode ser cortada em dados, refogada com coentro e servida com purê de mandioquinha; ou com pimentão, molho rôti e banana à milanesa.
Atração à parte é o jacaré, cuja carne branca e macia lembrando peixe pode ser pedida como moqueca –com direito a molho de dendê, pimentão, tomate, leite de coco e coentro.
Ao lado desta seção, o restaurante mantém seu cardápio francês, a quem interessar possa.

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