São Paulo, sexta-feira, 13 de janeiro de 1995
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Imagem arranhada

O PSDB tinha a imagem de ser um partido que, em termos de comportamento ético, situava-se num patamar um pouco mais elevado do que o da maioria das legendas nacionais. Um breve olhar sobre o início da administração do governador de São Paulo, Mário Covas, basta para lançar dúvidas acerca da validade dessa imagem.
Não, o chefe do Bandeirantes, até onde se saiba, nada fez de comprometedor até o momento, apesar de seus colegas de partido. De fato, a maneira como vêm agindo alguns deputados federais e estaduais do PSDB em relação a nomeações para cargos de segundo escalão do governo só pode ser definida por meio de uma palavra bastante dura, mas lamentavelmente precisa: fisiologia. O seu apetite por cargos e o modo como tentam saciá-lo são mais do que suficientes para aproximar esses parlamentares ao que de pior a política brasileira jamais produziu, excetuadas, é claro, as práticas que podem ser enquadradas no Código Penal.
Não consta das prerrogativas de deputados nomear cargos para o Executivo. Ainda assim, ignorando este preceito básico da independência entre os Poderes, alguns parlamentares querem colocar apadrinhados em postos estratégicos sabe-se lá para conseguir o quê.
E, se a bancada estadual ainda não chegou ao ponto de ameaçar com uma espécie de rebelião, três deputados federais –é bom lembrar que um deputado federal nada tem a ver com o governo de seu Estado de origem– já insinuaram que poderiam até mesmo trocar de partido se não tivessem suas reivindicações atendidas. Seus nomes: Celso Russomano (o mais votado de São Paulo), José de Abreu e Régis Fernandes de Oliveira.
Explicações como as de que esse comportamento se deve a um desejo bastante intenso de participar do governo soam a balela. É natural que o Bandeirantes agora procure atenuar as tensões para não iniciar uma crise logo no princípio da gestão, mas resta esperar que não ceda à chantagem. Tolerar o intolerável seria mais um passo para comprometer a imagem do partido.

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