São Paulo, segunda-feira, 16 de janeiro de 1995
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Flamengo é um exemplo para o futebol

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Nos tempos em que o marketing no futebol soava como João Gilberto aos ouvidos acostumados com Tonico e Tinoco, um dirigente tricolor lançava-me um desafio: nós, críticos, éramos senhores de todas as verdades, mas que um de nós assumisse a direção de um clube, para ver com quantos paus se faz uma canoa (a expressão já estava fora de moda, mas ainda significava alguma coisa). E jogava na mesa a experiência que o São Paulo teve, nem me lembro exatamente quando, com Paulo Planet Buarque, como diretor de futebol.
Realmente, meu amigo Planet, há muito tempo ministro do Tribunal de Contas do Município, na juventude havia sido um prestigiado cronista esportivo (ainda perpetra uns textos aqui e ali). E feroz crítico de seu São Paulo, na época da construção do Morumbi, quando o tricolor não ganhava nada e colocava em campo times, no mínimo, engraçadíssimos.
Pois Planet marcou sua fugaz passagem como diretor de futebol tão somente pela introdução de um novo design da camisa tricolor, de gosto extremamente duvidoso: algo como um lado vermelho, outro preto e uma faixa vertical branca, ou qualquer coisa assim.
Claro que, naquela época, com os cofres tricolores trancados a sete chaves para o futebol, só um milagre armaria um time campeão com aquela camisa ou a tradicional.
Lembro esse episódio apenas para louvar o gesto ousado de Kleber Leite, um ex-radialista que virou empresário e acaba de assumir a presidência do Flamengo, autor da proeza de ir buscar de volta Romário para o futebol brasileiro.
E, vejam bem: não foi uma reedição do caso Roberto Dinamite, que saiu do Vasco da Gama para o mesmo Barcelona de Romário e voltou como um bumerangue. É que Roberto, mal desembarcando em Barcelona, já estava com a passagem de volta, pois seu futebol, na época tosco demais, agredia a expectativa dos refinados catalães.
Romário, não. Romário era um ídolo, artilheiro na última temporada, e coroado como o principal, senão único, responsável pela conquista do tetracampeonato pelo Brasil.
Não pretendo aqui encher a bola do Kleber, nem de longe colaborar com a limpeza de sua imagem pública, depois da divulgação dos tais grampos telefônicos em que ele se refere de forma desairosa a Pelé.
Muito menos justificar seus métodos como empresário, na área de marketing do futebol, ou suas relações com o que há de pior na gestão deste esporte no Brasil, Ricardo Teixeira e cia.
Mas a vida me ensinou a separar as coisas. Como presidente do Flamengo, marcou um golaço de saída, um gol de placa: trouxe o mais célebre e importante jogador brasileiro da atualidade, sem que isso onerasse o clube a ponto de afundá-lo além da tábula rasa em que o colheu.

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