São Paulo, segunda-feira, 16 de janeiro de 1995
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Invenção do cinema gera controvérsias

Franceses, americanos e alemães disputam primazia

PASCAL MÉRIGEAU
DO "LE MONDE"

Se não foi necessário esperar que o cinema se tornasse centenário para ver seus inventores, reais ou supostos, acotovelarem-se nas portas da fama, a celebração do primeiro século de existência desta que foi para muitos, durante muito tempo, "uma invenção sem futuro" é motivo para acelerar os processos de pesquisa sobre paternidade.
Munidos de atestados, armados com cronologias de beneditinos, apoiados em suas certezas, os historiadores enfrentam-se com provas "inquestionáveis" e datas "indiscutíveis". Mas, procurando saber quando nasceu o cinema, deseja-se sobretudo designar seu lugar de origem, de modo que se possa lhe conferir uma certidão de nascimento.
Ele nasceu na França, como dizem os franceses, ou nos Estados Unidos, como dizem os americanos? Para saber, é preciso virar as páginas do grande livro dos inventores ou folhear os programas das salas de espetáculo, evocar a lembrança da primeira virada de manivela ou contabilizar o primeiro centavo que caiu no caixa do primeiro "mostrador de sombras"?
Neste jogo, cada um tem certeza de ter razão, ao mesmo tempo que não está certo de não estar enganado. Qualquer que seja o elo que se decida celebrar, a verdade está no fim da corrente.
Se fosse preciso escolher um nome, o de Louis Aimé Augustin Le Prince talvez se impusesse. Porque é um nome bonito para um inventor, e porque este francês registrou, em novembro de 1888, algumas imagens do jardim de seu sogro, que era inglês e morava em Leeds. No que diz respeito ao nome, o de Lumière parece ainda mais apropriado.
Se alguns contestam que os irmãos Louis e Auguste tenham descoberto o cinema, ninguém ousa negar seriamente que eles inventaram o cinematógrafo, filmando a saída de suas próprias fábricas, em Lyon, em 19 de março de 1894, e depois organizando a primeira projeção em público sobre uma tela, no dia 22 de março de 1894, na sede da Sociedade de Incentivo para a Indústria Nacional, no nº 44, da rue de Rennes, em Paris.
No dia 28 de dezembro de 1895, os Lumière faziam a primeira sessão do cinematógrafo, no Grand Café, no boulevard des Capucines, em Paris. Mas, a esta data, é justo preferir outras, que lhe são anteriores.
A de 22 de maio de 1891, por exemplo, porque nesta data foi apresentado pela primeira vez em público o resultado das pesquisas de Thomas Alva Edison para a realização do kinetoscópio. Ou ainda 14 de abril de 1894, porque nunca antes desse dia espectadores tinham pago para ver a projeção de imagens animadas (a sessão ocorreu no Kinetoscope Parlor, na Broadway, e deu aos organizadores US$ 120 em um dia).
A menos que se prefira evocar a sessão organizada em 1º de novembro de 1895, em Berlim, por Max e Emil Skladanowski: os dirigentes nazistas não se privaram de evocar esta lembrança para afirmar que o cinema era uma invenção alemã, esquecendo voluntariamente a projeção, por iniciativa do major Woodville Latham, de um filme de boxe de quatro minutos, "Young Griffo vs Battling Charles Barnett", em 20 de maio de 1895, em Nova York.
Essas sessões, e outras ainda, não tiveram continuidade, ao contrário do que ocorreu com a do Grand Café. Um século se passou desde então, ao longo do qual o cinema descobriu inúmeros pais, que o reconheceram, todos.

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