São Paulo, segunda-feira, 16 de janeiro de 1995
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Complexo de superioridade

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Li ontem, no caderno Mais!, artigo de Michael Kepp, jornalista americano, correspondente do jornal dominical londrino "The Observer".
Kepp sustentou a tese de que o brasileiro não suporta "opiniões pouco lisonjeiras sobre seu país", quando feitas por estrangeiros, em especial americanos.
Diz ainda que o Brasil mantém com os países ricos, especialmente com os EUA, uma relação de amor e ódio. Mais: os brasileiros têm "baixa auto-estima" e, "com inveja e fascínio da superioridade técnica e econômica destes países, sentem-se inferiores". Por isso se defendem.
Há tempos não lia algo tão despropositado. Senão vejamos: a relação do Brasil com os EUA não é de amor ou de ódio. É de admiração. Uma admiração que pode ser constatada no rádio, na TV, no cinema, nos letreiros de muitas lojas.
A estima nacional, ao contrário do que diz Kepp, está nas nuvens. Desde o lançamento do Plano Real, o país foi contaminado por por otimismo besta, irreal.
Por último, o brasileiro não se defende das críticas por inveja. A autodefesa é uma característica da humanidade. Não é monopólio tupiniquim. Experimente-se pôr um japonês a falar mal de americanos no coração de Nova York.
Decerto surgirá um latagão nativo que, sem razões aparentes para invejar o nanico oriental, não deixará de interpor algumas objeções.
Há um ditado goiano que diz: "Boi em terra estranha deve mugir como vaca". Não importa a nacionalidade do gado.
De resto, os EUA inspiram cada vez menos o sentimento da inveja. Numa época em que o totalitarismo se apresentava ao mundo como uma ameaça, os ideais amerianos de liberdade ofuscavam as contradições da sociedade daquele país.
Superado o fantasma totalitário, lançam-se holofotes sobre outras particularidades da vida americana. Há como que uma "desglamourização" do "american way of life".

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