São Paulo, terça-feira, 17 de janeiro de 1995
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'As Traças da Paixão' reestréia na cidade

BEATRIZ CANEPA
DA REDAÇÃO

Peça: As Traças da Paixão
Direção: Marcio Aurélio
Elenco: Walderez de Barros e Claudio Fontana
Onde: Centro Cultural São Paulo/ Sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611)
Quando: terças e quartas, às 21h30
Quanto: R$ 6

"As Traças da Paixão" volta aos palcos de São Paulo para sacudir o imaginário coletivo. Convida o público a embarcar no mundo ilimitado dos sonhos, onde vive a personagem Marivalda Revólver (Walderez de Barros), uma dona de boteco de beira de estrada que imagina ser a princesa russa Anastácia Romanov.
Alcides Nogueira, autor da peça, pretende resgatar com o tema a magnitude dos sonhos, que, segundo ele, está se perdendo a cada dia. "A peça enfatiza a mesquinhez interior que as pessoas estão vivendo, mostrando, em contrapartida, a possibilidade de se entregar inteiramente a um sonho."
A relação entre Marivalda Revólver e Paco (Claudio Fontana), um rapaz que aparece em sua vida dizendo ser seu filho, é o ponto de partida para uma série de situações nas quais magia e realidade misturam-se o tempo todo.
A personalidade de Paco, um marginal assumido, contrasta com a de sua companheira. "A Marivalda sublima o tempo todo, transformando em signos todos os seus delírios, ao passo que os sonhos de Paco são todos concretos", comenta Alcides Nogueira.
Com este pano de fundo são discutidas várias questões, entre elas o conflito inerente às relações humanas, sobretudo a paixão, levando o autor a fazer a seguinte indagação que dá o título a peça: "Por que a paixão tem que ser necessariamente uma traça que corrói"?
A parceria com o diretor Marcio Aurélio, que nasceu há 20 anos e rendeu vários trabalhos, como "Lua de Cetim" e "Ópera Joyce", foi requisito essencial para a viabilização desta peça.
"Marcio Aurélio foi capaz de traduzir cenicamente o discurso moderno que estou propondo", afirma Alcides Nogueira, que estruturou a peça em cima da fragmentação cênica. O elemento moderno, comenta, "está na desconstrução contínua das ações, na ausência de limites entre ficção e realidade e na retomada das várias tendências universais do teatro".
Na opinião de Marcio Aurélio, o desafio colocado por "Traças da Paixão" foi "descobrir como se processam os jogos entre sonho e realidade dentro da peça".
Para lidar com um problema complexo como o empobrecimento dos ideais, optou-se pela comédia. "Na comédia as pessoas absorvem a mensagem de maneira indolor para repensar mais tarde", afirma Alcides Nogueira. Marcio Aurélio completa o raciocínio com a frase "quem sabe chora, e quem sabe mais chora e ri", do padre Antônio Vieira.
A trilha sonora, brinca Alcides, "é um curso rápido sobre música russa". Está em sintonia com o espírito geral da peça, mesclando trechos de Tchaikóvski, Prokofiev e outros grandes expoentes da música russa.

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