São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 1995
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'Todos pareciam em estado de choque'

BRIAN COVERT
DO YOMIURI SHIMBUN, EM NISHINOMIYA

Começou com um tremor mais ou menos leve, por volta das 5h46, e aumentou rapidamente, sacudindo o edifício inteiro. Durou cerca de 30 segundos. Foi ficando cada vez mais forte, e objetos começaram a cair das prateleiras. Ouviam-se muitos estrondos de coisas caindo.
Tudo no apartamento se mexia. Objetos se estatelavam no chão, vidros rachavam. Os pratos dentro dos armários da cozinha se quebraram. Um dos armários da cozinha se desprendeu da parede e tombou sobre a mesa. A porta da geladeira se abriu e os alimentos caíram.
Duas cômodas grandes e muito pesadas deslizaram, afastando-se cerca de meio metro da parede. Estava perto da porta, de modo que tivemos que empurrá-la de lado, mais tarde, para podermos entrar no quarto.
Um monte de água pulou para fora do vaso sanitário e o banheiro e a cozinha ficaram alagados. A casa estava numa grande confusão.
Quando olhei pela janela, depois do primeiro tremor, vi muitos prédios danificados e parcialmente desabados. Os danos sofridos por nosso prédio, que tem três andares e é construído de concreto reforçado, pareciam pequenos em comparação com outros edifícios.
O pior caso que vi até agora foi um prédio de apartamentos perto da saída norte da estação ferroviária de Koshienguchi, que desabou completamente.
Os destroços do edifício pegaram fogo, e os bombeiros começaram a tentar apagar o incêndio assim que o primeiro tremor parou.
Mas depois de sete horas o incêndio ainda ardia, e havia três carros de bombeiros na área. Fui até o local, mas não vi ninguém nem ouvi qualquer som saído dos destroços. Não sei quantas pessoas moravam lá. Ao que parece, os moradores estão lá dentro.
A rua em volta da estação Koshienguchi se dobrou para cima, ficando empenada e impedindo a passagem dos carros. A estação estava fechada e algumas pessoas estavam sentadas no chão.
Em muitos lugares as calçadas e os muros dos edifícios estavam rachados. As fendas na parede do túnel subterrâneo que passa embaixo das trilhas da rede ferroviária tinham um palmo de largura.
Perto da estação há uma área comercial, cheia de lojas. As antigas pareciam as mais danificadas. As lojas mais novas parecem ter sofrido só quebra de vidros e persianas. Duas casas de estilo japonês antigo desabaram completamente.
Às 14h a energia elétrica voltou, mas ainda não temos gás ou água. O telefone está desligado. As pessoas estão fazendo filas diante de alguns telefones públicos que ainda estão funcionando.
Todo mundo no bairro está trabalhando lentamente. As pessoas estão limpando as casas e lojas, juntando os pedacinhos um a um. Depois do terremoto todos pareciam estar em estado de choque.
Vi pessoas trabalhando ou sentadas na rua, embrulhadas em cobertores e colchas. Parece que simplesmente correram para fora, fugindo do perigo.
É realmente chocante. Parece um filme sobre um terremoto. Ainda estamos ouvindo sirenes. O que impressiona nesta calamidade toda é como as pessoas estão ajudando umas às outras. Uma das lojas continuou com a televisão funcionando, não se sabe como, e seu dono fica dando informações atualizadas às pessoas. Fora isso, as notícias se espalham boca a boca.
No momento nossa maior preocupação é nosso filho, de seis anos. Que podemos dar a ele, sem água e sem gás? Uma velhinha nos deu um pouco de água quente e outra mulher nos ofereceu leite.
Agora a única coisa que podemos fazer é esperar as declarações oficiais. Só ouvimos uma, feita há algum tempo. Um carro com alto-falante passou, anunciando que as pessoas podem se abrigar num ginásio, numa escola primária do bairro.
O primeiro telefonema que recebemos veio do Havaí, por volta do meio-dia. Era da irmã de minha mulher, que ficou sabendo do terremoto pela televisão.
Estamos preocupados com os pais de minha mulher. Eles moram na província de Nagata, onde é possível que os danos tenham sido ainda maiores. Não temos meios de entrar em contato com eles.
A primeira coisa que fizemos depois do terremoto foi verificar se ninguém havia se ferido. Ficamos chamando uns aos outros no escuro. Depois tentamos acender a luz, mas ela não funcionava. Batemos na porta de nosso vizinho, que mora sozinho e trabalha num escritório em Osaka.

Tradução de Clara Allain

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