São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 1995
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O príncipe e os nobres

JANIO DE FREITAS

O aumento aprovado para os vencimentos de presidente, vice, ministros e parlamentares é muito maior do que o divulgado pelos meios de comunicação.
Com o acréscimo de última hora, no acordo entre governo e Legislativo, para que o presidente, o vice e os ministros passem a receber 13º, o aumento final ficou em percentuais obviamente superiores à simples comparação entre os vencimentos mensais dos novos governantes e dos anteriores. O mesmo se dá com os ganhos finais dos parlamentares, que aos 12 meses acrescentaram também o 13º e mais dois vencimentos.
Ao passar de 12 x R$ 3.489,00 para 13 x R$ 8.500,00, os valores mensais dos vencimentos de Fernando Henrique Cardoso tiveram o acréscimo divulgado de 143,6%, mas no ano pularam de R$ 41.868 para R$ 110.500,00, o que resulta, na verdade, em aumento de 163,92%.
No caso do vice e dos ministros, os antigos R$ 3.128,00 mensais subiram os divulgados 155,7% ao se transformarem em R$ 8.000,00 mensais. Mas, com o 13º agora introduzido, o total do ano passou de R$ 37.536,00 para R$ 104.000,00, o que resulta em aumento de 177%.
Já com os divulgados 143,6% e 155,7% dos aumentos para presidente, vice e ministros, estes percentuais eram bem maiores do que os também divulgados 95,7% do aumento para parlamentares. Apesar disso, e por algum mistério que o leitor saberá dissolver sozinho, foi o menor dos percentuais, o dos congressistas, que os meios de comunicação preferiram destacar. Mas imprensa e telejornais, como se sabe, são isentos em relação ao governo. Aliás, em relação a tudo.
Com os seus vencimentos, os parlamentares passaram-se de 12 x R$ 4.088,00 para 15 x R$ 8.000,00. No mês a mês, o aumento foi mesmo de 95,7%, mas, na verdade final, foi de 144,61%. Continuou sendo o menor dos aumentos, percentualmente, embora com mais dois vencimentos do que os outros. O que realça ainda mais a altitude dos outros.
Quem não concordar com o cognome de "Príncipe dos Sociólogos", dado ao presidente Fernando Henrique pela ala jornalística daquele conhecido cordão, pode agora chamá-lo, com a prova do seu aumento especial, de "Príncipe dos Servidores Públicos". Os outros bem-servidos merecem as reverências devidas à nobreza. Todos com muita autoridade moral para regatear os 22% para o funcionalismo civil e militar –já uma grande concessão se comparados com os 7% preferidos pelo ministro José Serra do alto dos seus 177%.

É dando
Acabou tudo bem. O governador Marcello Alencar ameaçava nomear um procurador-geral da Justiça alheio ao grupo do atual, Antonio Carlos Biscaia. Com seu candidato em punho, Biscaia ameaçava denunciar à Justiça os políticos mencionados nas famosas listas de banqueiros do bicho.
Acabou tudo bem: cada um tinha um trunfo. Ao fazer as acusações espetaculares em meados do ano passado, Biscaia não se referiu a Marcello Alencar. Mas o então candidato e hoje governador figura justamente na contabilidade que tem indícios de autêntica. Biscaia, por sua vez, correria o risco, se não fizesse o sucessor, de problemas com o reexame técnico-jurídico do seu desempenho.
Acabou tudo bem –como é próprio de pessoas que, antes de terminar o tempo regularmentar, coincidem em torno dos seus trunfos. Marcello Alencar nomeia o indicado de Biscaia; Biscaia, depois de todo aquele escândalo, não denuncia os políticos entre os quais Marcello Alencar figura na pior lista.

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