São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 1995
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Falta d'água atinge 250 mil pessoas hoje

DANIELA FALCÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais 250 mil moradores das zonas sul e oeste de São Paulo ficarão sem água hoje das 7h às 21h. Ontem, o corte no fornecimento já havia atingido 500 mil paulistanos.
A causa da interrupção no fornecimento de água é a proliferação descontrolada de algas ulotricális na represa Guarapiranga, que abastece as zonas sul, oeste e região central de São Paulo.
As algas ulotricális são, em sua maioria, invisíveis a olho nu. Elas entopem filtros e aterram tanques de decantação das estações de tratamento, impedindo que a água seja tratada.
O desequilíbrio na reprodução das algas é causado pelo grande volume de esgotos despejados na represa e pela ocorrência frequente de dias claros (sem nuvens).
As substâncias presentes nos esgotos (como fósforo e nitrogênio) servem de nutrientes para as algas e os dias claros favorecem sua multiplicação porque deixam as águas mais claras, facilitando a fotossíntese.
A proliferação de algas na Guarapiranga já causou problemas no abastecimento de água das zonas sul e oeste em julho de 1989, setembro e dezembro de 1990 e em janeiro de 1991.
Em 89, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) teve que implantar racionamento de água nos bairros abastecidos pela Guarapiranga por causa da proliferação de algas da espécie annabaena, que deixavam a água tratada com cheiro de inseticida (veja quadro ao lado).
Em 90 e 91, houve multiplicação de outra espécie de alga, as microcistis aeroginosas, que liberavam toxinas que tornavam a água não-potável.
Ao contrário das annabaenas e das microcistis, as ulotricális não deixam cheiro na água e não são tóxicas.
Segundo a Sabesp, nada impede que outros tipos de alga –como as annabaenas e microcistis– voltem a aparecer na Guarapiranga.
Loteamentos
Desde 1973, estudos já apontavam o risco da proliferação de algas na Guarapiranga se não fosse feito controle da instalação de loteamentos clandestinos nas margens da represa.
Os loteamentos clandestinos são os principais responsáveis pelo volume de esgoto lançado na Guarapiranga.
Em 89, depois da primeira crise de abastecimento causada pela proliferação de algas, o governo estadual criou o Projeto de Despoluição da Bacia Guarapiranga.
Mas a própria Sabesp admite que ainda existe muito a ser feito. "Estamos revertendo o curso dos dois rios mais poluídos da região para evitar que eles desemboquem na Guarapiranga. Só que não dá para resolver tão rápido o problema dos loteamentos clandestinos", disse Márcio Riscala, assessor de imprensa da Sabesp.
Hoje, o fornecimento será suspenso em cinco bairros: Vila Mascote, Chácara Flora, Capão Redondo e Jabaquara (zona sul) e na Vila Madalena (zona oeste). O corte atinge apenas parte desses bairros. Amanhã, o abastecimento deverá ser normal.

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