São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 1995
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O que acontece com dólar barato

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Dólar barato, importações e abertura econômica produzem ganhadores e perdedores. Eis como se comportam os diversos setores no Brasil:

Exportadores - perdem com o dólar barato. Um sapato exportado por US$ 10 está rendendo R$ 8,50. Para ganhar de novo R$ 10, o exportador precisa aumentar o preço em dólar –e aí se arrisca a perder mercado para concorrentes. A outra saída é reduzir custos de produção, ganhar eficiência. Mas isso é um programa complexo.
Os exportadores querem sempre a desvalorização do real.

Importadores - ganham com o dólar barato. Gastavam R$ 10 para comprar algo de US$ 10. Agora, gastam R$ 8,50. Podem passar o ganho para o consumidor, reduzindo preço e ganhando mercado, ou podem embolsar a diferença cambial e aumentar lucros.
Os importadores sempre querem dólar barato.

Bancos - os mais competentes ganharam muito com a queda de valor do dólar. Na aposta de que o programa de estabilização teria, no primeiro momento, valorização do real e taxas de juros altas, os bancos mais espertos tomaram dinheiro emprestado em dólar e aplicaram em títulos do governo.
Deu certo, a dívida em dólar se desvalorizou. Quem devia US$ 100 mil precisava de R$ 100 mil para pagar e hoje precisa de R$ 85 mil. E os reais aplicados em papéis do governo renderam bem.
Mas não houve só ganhos. Muitos bancos passaram a comprar dólares quando a cotação chegou a R$ 0,90, na convicção de que não cairia mais. A cotação caiu a R$ 0,85, e esses aí perderam.
Por outro lado, como o BC tem sustentado o dólar a R$ 0,85, muitos bancos consideraram isso como o piso e já compraram dólares, na expectativa de que a cotação agora só pode subir.
Se subir, vão ganhar de novo.

Indústria local - o dólar barato é bom na medida em que facilita a importação de insumos, matéria-prima e máquinas. Mas atrapalha porque a produção precisa concorrer com os importados barateados pelo dólar a R$ 0,85.
O ideal para a indústria era ter duas cotações, uma para importar insumos, barata, outra para bens de consumo finais, mais cara.
Como a tendência hoje é no sentido contrário, de unificar as cotações, a indústria local prefere o dólar caro, o real desvalorizado.
A outra alternativa é ganhar eficiência e produtividade, de modo a reduzir os custos de produção para competir com os importados. Como no caso dos exportadores, é um processo difícil e demorado.

Consumidor - sempre ganha com o dólar barato. Tanto o produto importado quanto o local ficam mais baratos.

Trabalhadores - os sindicatos dizem que os trabalhadores perdem porque os importados eliminam produtos locais.
Os autores do Real dizem que a abertura da economia estimula o crescimento econômico e aumenta o nível de emprego. Assim, não há desemprego, mas reorganização. Fecham-se postos de trabalho em fábricas atrasadas e abrem-se outros em setores modernos.

Devedores - Quem tinha dívida em dólar ganhou dinheiro. A dívida diminuiu 15%. Têm dívidas em dólar o governo brasileiro, as estatais, todas as grandes companhias privadas e a maior parte das médias. Todos tiveram uma forte redução em seus custos financeiros –precisam de menos reais para quitar as prestações em dólar.

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