São Paulo, quinta-feira, 19 de janeiro de 1995
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Obra de Jorge Amado chega à cozinha

MANUEL DA COSTA PINTO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR

Não são apenas a atmosfera marítima, a incandescência do sertão e o encontro sensual entre as raças que fazem de Jorge Amado uma espécie de cartógrafo literário da Bahia.
A partir de hoje, o festival "A Comida Baiana de Jorge Amado" vai mostrar, em Salvador, que a culinária é um dos temas mais requintados –e saborosos– que o escritor usou para celebrar o mundo voluptuoso de Gabriela, Tereza Batista e outras criações.
A mostra gastronômica é uma seleção das receitas compiladas por sua filha, Paloma Amado Costa, no "Livro de Cozinha de Pedro Archanjo, com as Merendas de D. Flor", da editora Maltese.
O evento vai até sábado, sempre das 20h às 23h, e o preço de R$ 20 por pessoa dá direito a todo o cardápio oferecido.
Em seu livro, Paloma descreve os pratos que aparecem em obras como "Jubiabá", "A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água" e "Tenda dos Milagres" –além de reproduzir trechos pantagruélicos da prosa de Jorge Amado.
Quem for ao Tropical Hotel da Bahia, onde ocorre o festival, terá assim a oportunidade de experimentar as comidas preferidas de personagens como Vadinho (que devora languidamente as moquecas de siri-mole preparadas por Dona Flor) e coronel Boaventura (que em "Tocaia Grande" é brindado com frito de capote, uma iguaria sertaneja).
Segundo a psicóloga Paloma Amado, o autor de "Capitães de Areia" usou a culinária como mais uma forma de representar a miscigenação étnica que impregna a cultura baiana.
"É errado pensar que essa cultura é predominantemente negra", diz ela. "O termo moqueca (peixe cozido à moda africana, em azeite-de-dendê), por exemplo, vem de 'moquear' (modo indígena de assar os alimentos na brasa). Da mesma maneira, a culinária africana absorveu ingredientes usados pelos índios, como a mandioca e a tapioca. A culinária serve para entender melhor essa mestiçagem", conclui Paloma Amado.
"O Livro de Pedro Archanjo, com as Merendas de D. Flor", porém, está longe de ser um tratado de antropologia, preferindo investir em motivos –digamos assim– menos espirituais.
E o evento "A Comida Baiana de Jorge Amado" é, afinal, uma festa para os sentidos, uma justa homenagem –entre carurus e sarapatéis– a um escritor que há mais de 60 anos transforma o prazer em literatura.

LEIA MAIS
Sobre a Bahia nas págs. 6-14 e 6-15.

O jornalista MANUEL DA COSTA PINTO viajou a Salvador a convite do Tropical Hotel da Bahia e da Varig.

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