São Paulo, sábado, 21 de janeiro de 1995
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Gráfica do Senado tem 60% de ociosidade

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Cegraf (Centro Gráfico do Senado Federal) funciona com apenas 40% da sua capacidade operacional. A sua capacidade ociosa (não-utilizada) de 60% poderia ser usada para atender pedidos do setor privado, mas ela só trabalha para o Congresso.
A realização de serviços para terceiros renderia até R$ 80 milhões por ano, tornando a gráfica auto-suficiente.
Mantida com recursos do Tesouro Nacional, a gráfica conta um patrimônio, um quadro de funcionários e uma capacidade operacional muito acima das suas necessidades.
Conhecida nacionalmente pela impressão gratuita de propaganda eleitoral para parlamentares, a gráfica tem um orçamento de R$ 79,3 milhões para 95, dinheiro suficiente para construir 20 mil casas populares.
O Senado não informa o valor do patrimônio da gráfica. Somente o terreno (66 mil metros quadrados) está avaliado em R$ 60 milhões. Cada uma das máquinas custa entre R$ 1,2 milhão e R$ 1,4 milhão.
O gasto com servidores em 95 ficará em R$ 56,9 milhões. O custo médio de um funcionário ao mês será de R$ 3,5 mil, valor correspondente a 50 salários mínimos.
Além dos 991 servidores que trabalham efetivamente na gráfica, mais 366 estão lotados nos gabinetes dos senadores. Este desvio de função é resquício do "trem da alegria" promovido em 1984 pelo então presidente do Senado, Moacir Dalla.
A gráfica contava na época com 718 funcionários. Numa só canetada foram efetivados, sem concurso público, mais 800 servidores.
Em consequência do inchaço do quadro de pessoal e do aperfeiçoamento tecnológico, não houve contratações nos últimos dez anos. "E não haverá nos próximos dez anos", afirma o diretor-executivo do Cegraf, Agaciel Maia.
Calendários
A impressão do material de divulgação dos trabalhos de deputados e senadores é feita a um custo simbólico. A cota anual de cada senador é de R$ 4,8 mil, mas o custo real do material impresso é dez vezes maior.
A despesa total com o material de divulgação dos senadores, incluindo transcrições de discursos, jornais, revistas, livros de poesia, cadernos escolares e calendários, fica em R$ 4,7 milhões ao ano.
Parte dos senadores aproveita a sua cota para divulgar a sua atividade parlamentar, mas ocorrem muitos desvios de finalidade no material impresso.
A impressão de calendários, uma prática de muitos anos, acabou cassando o mandato do presidente do Senado, Humberto Lucena (PMDB-PB), para o período 1995/2003.
Mas a gráfica também guarda um encalhe comprometedor. O senador Raimundo Lira (PFL-PB) encomendou 300 mil cadernos, com a fotografia dele na capa, em cores. O custo real da encomenda, capaz de encher um caminhão, ficou em R$ 60 mil.
Avisado de que a distribuição resultaria em recurso à Justiça, Lira não retirou os cadernos. Mesmo assim houve recurso contra o senador. Os cadernos estão agora retidos pela Justiça.
O senador Áureo Mello (PRN-AM) editou 13 livros na gráfica do Senado, alguns deles escritos por amigos. O custo comercial ficaria em R 140 mil.
O livro de poesias "Inspiração" nada tem a ver com a divulgação da atividade parlamentar. A poesia "Soneto" marca o estilo do poeta.
"A mulher que se entrega a mais de um homem/É farrapo do amor, sem ideal/É carne vil para aqueles que a comem/E depois de comê-la "passam mal'...", diz o poema.
Usina
O Cegraf foi criado em 1963 com a missão de garantir a autonomia do Poder Legislativo. Na época, os impressos do Congresso eram feitos pela Imprensa Nacional, ligado ao Executivo.
Na busca dessa autonomia foi instalada uma usina no prédio da gráfica. Isso porque, durante os governos militares, muitas vezes apagavam-se as luzes do Congresso em resposta a discursos de parlamentares de oposição.
Com a usina, eram mantidos os trabalhos no prédio do Congresso e na gráfica. Mas o projeto também foi exagerado. A usina tem capacidade para abastecer uma cidade de 35 mil habitantes.

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