São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Quatro nomes constituem os ouvidos de FHC

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Se anotasse, quatro nomes apareceriam com mais frequência nos seus relatórios reservados.
Dois, aliás, embora de um mesmo partido (o PSDB, partido do presidente), são também inimigos cordiais.
Um é o senador eleito José Serra, ministro do Planejamento, e, o outro, Tasso Jereissati, governador do Ceará.
Serra nunca escondeu suas reservas em relação aos "tucanos" do Ceará, dos quais as cabeças coroadas são o próprio Tasso e mais o ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes.
Ciro demonstrou que também tinha suas reservas em relação a Serra. Mas Tasso, bem mais diplomático, jamais falou mal de Serra, em público ou reservadamente, pelo menos até onde a Folha pôde apurar.
Ter à sua volta esse confronto de opiniões, de resto, faz parte do estilo de Fernando Henrique Cardoso.
O terceiro interlocutor preferencial trabalha no anexo do Palácio do Planalto destinado à Vice-Presidência.
É o pernambucano Marco Antônio de Oliveira Maciel, o vice-presidente, que comparte com Carvalho e Eduardo Jorge a característica de "workaholic" ("viciado em trabalho").
É, de todos os habitantes do novo Planalto, o de mais longa convivência com o Poder. Apoiou e/ou participou de todos os governos dos últimos 30 anos.

Luís Eduardo
Por fim, a figura em ascensão na constelação do novo Planalto parece caracterizar um caso de lenta, gradual e segura transição biológica de poder político em uma mesma família.
Trata-se do deputado federal Luís Eduardo Magalhães, líder do PFL e provável futuro presidente da Câmara.
Quando a Folha quis saber se FHC fala muito com Luís Eduardo ou gosta muito dele, a resposta ouvida no próprio Planalto foi curta e definitiva: "Muitíssimo".
Uma evidência dessa ascensão pode estar na avaliação de Luís Eduardo a respeito da chantagem de um grupo de senadores, que brecou a aprovação do nome de Pérsio Arida para presidir o Banco Central condicionando-a à votação pela Câmara da anistia para o senador Humberto Lucena (PMDB-PB).
Antes da terceira e afinal vitoriosa tentativa de votação, Luís Eduardo dizia a seus companheiros que FHC teria resolvido a questão com "três ou quatro telefonemas".
Coincidência ou não, esta semana FHC finalmente deu os "três ou quatro telefonemas" e o nome de Arida foi aprovado.
Há, na Corte brasiliense, quem suspeite que Luís Eduardo está assumindo, paulatinamente, o papel de liderança que seu pai, o ex-governador e agora senador Antônio Carlos Magalhães, exerceu por tanto tempo.
Pelo menos no Congresso Nacional, essa é uma das poucas opiniões de ACM que não encontra muitos adversários.
A troca de guarda na família Magalhães é, de resto, natural. ACM perdeu a chance de ser candidato presidencial no pleito do ano passado. Dificilmente terá outra, até pela idade.
Já Luís Eduardo, se chegar, como tudo indica, à presidência da Câmara, torna-se naturalmente um "presidenciável".
É claro que não são esses os únicos interlocutores políticos do presidente, mas é igualmente claro que ele evita os temas que considera miúdos.
Já era um pouco assim como senador, época em que preferia envolver-se nas grandes articulações a perder-se nos detalhes de projetos de menor impacto.
Agora, na Presidência, é muito mais, tal o seu empenho em restaurar o que chama de "dignidade do cargo".
Os pleitos miúdos de deputados e senadores parecem não combinar com a "dignidade do cargo", o que acabou abrindo um buraco na estrutura palaciana. Não há, a rigor, ninguém designado para tratar dessas supostas miudezas.
Consequência: a fila de congressistas é gorda no anexo do Planalto em que Marco Maciel despacha, mas magra no próprio Palácio, onde reina FHC.
Consequência número dois: há divergentes avaliações no próprio governo a respeito da maioria com que ele conta para aprovar as reformas constitucionais, que exigem 3/5 de cada Casa do Congresso e em duas votações.
"Minha impressão é a de que o governo está tranquilo no Congresso", acha, por exemplo, o ministro da Administração, Luiz Carlos Bresser Pereira.
Mas a Folha apurou que outros ministros, como José Serra, e amigos intelectuais do presidente, como Luciano Martins, suspeitam que essa maioria é enganosa e terá que ser construída tema a tema, votação a votação.
Como se vê, o novo estilo ainda não conseguiu que a catálise contamine todos os agentes políticos que atuam no Planalto Central.

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