São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Libertação de Auschwitz faz 50 anos

RONEY CYTRYNOWICZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando as tropas soviéticas libertaram o campo de concentração e extermínio de Auschwitz, na Polônia, na tarde do dia 27 de janeiro de 1945, encontraram gigantescas pilhas com cerca de 850 mil vestidos e casacos femininos, 350 mil ternos, dezenas de milhares de pares de sapato, montanhas de roupas de crianças e cerca de oito toneladas de cabelo humano, que seriam utilizados para forrar travesseiros.
As roupas e cabelos haviam pertencido a parte do 1,6 milhão de mortos, 1,5 milhão dos quais judeus (25% dos judeus mortos na Segunda Guerra Mundial). Também foram mortos 20 mil ciganos em Auschwitz. As tropas de Moscou libertaram 7.650 presos, que mal podiam se locomover.
Auschwitz, localizado junto à cidade de Oswiecim, na região da Alta Silésia, foi o maior entre os seis campos de extermínio construídos pelos nazistas na Polônia a partir do final de 1941.
Foi também o maior campo de concentração e de trabalhos forçados entre os cerca de 2.000 campos que funcionaram na Alemanha e países ocupados desde 1933.
Auschwitz tornou-se símbolo da barbárie e de uma estratégia de extermínio em massa imposta pelos nazistas segundo parâmetros industriais.
Ou seja, uma linha de produção da morte para matar o maior número de pessoas com máxima economia de recursos e de forma a aproveitar parte dos cadáveres como matéria-prima industrial.
Não se trata de uma nova "técnica" de matar, mas da abolição de quaisquer barreiras éticas, e sob a lei de um Estado moderno, com o objetivo de executar o genocídio de um povo considerado racialmente inferior.
Nas seis câmaras de gás do campo, os nazistas chegaram a matar 24 mil pessoas em um único dia. Os corpos eram cremados.
Todos os detalhes técnicos eram estudados para iludir as vítimas e evitar qualquer reação. As câmaras de gás eram disfarçadas de banheiros de desinfecção e as vítimas recebiam cabides numerados à porta sob a justificativa de poder encontrar as roupas depois do "banho".
O extermínio em massa foi tão completamente banalizado e integrado a uma rotina cotidiana, escreveu a filósofa Hannah Arendt, que nos campos de extermínio matava-se um homem tão friamente como se mata um mosquito.
Para Arendt, os campos de extermínio sintetizavam o modelo nazista de poder, objetivando eliminar qualquer traço de individualidade e espontaneidade e reduzindo as pessoas à categoria de coisas descartáveis.
Em Auschwitz, nunca se dizia amanhã de manhã, anotou o escritor italiano Primo Levi, diante do absurdo das câmaras de gás.
Auschwitz dividia-se em três subcampos: Auschwitz 1, para trabalhos forçados e que chegou a manter 135 mil presos, Birkenau (ou Auschwitz 2), onde era executado o extermínio, e Buna-Monowitz (ou Auschwitz 3), um conjunto de 46 campos de trabalhos forçados para indústrias como a I.G.Farben.
A seleção dos que iriam morrer imediatamente e dos que morreriam em três a seis meses após serem esgotados pelo trabalho era feita logo à chegada ao campo por médicos como Josef Mengele.
Tanto quanto na figura sádica de Mengele e em suas atrocidades médicas, o horror de Auschwitz está em milhares de carrascos que beijavam os filhos e saíam de casa nas cercanias do campo para, minutos depois, operar câmaras de gás.
Já no final de 1943, os governos dos EUA e Reino Unido possuíam informações detalhadas sobre o extermínio e recusaram pedidos para bombardear o campo sob a justificativa de que Auschwitz não era um alvo militar e atacar o campo não apressaria a vitória aliada.
Isto mesmo quando os aviões norte-americanos sobrevoavam diariamente o campo para bombardear fábricas vizinhas. A única vez em que uma bomba aliada caiu sobre o campo foi por acidente, matando alguns prisioneiros.
Estes dados são particularmente chocantes quando se sabe que entre maio e outubro de 1944 cerca de 600 mil judeus, a maioria da Polônia e Hungria, foram deportados e exterminados.
A despeito das terríveis condições dos presos e da onipresente repressão nazista, em 1943 foi formada uma rede de resistência que deflagrou um levante em outubro de 1944 e conseguiu destruir uma das câmaras de gás. Não mais do que 400 presos conseguiram fugir do campo enquanto ele funcionou.

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