São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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Centenas acompanham enterro de traficante

RONALDO SOARES; PATRÍCIA SANTOS
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Moradores da favela de Vigário Geral (zona norte do Rio) organizaram uma romaria para ver pela última vez o corpo do traficante Flávio Negão, morto na noite de sexta-feira num confronto com a Polícia Militar.
Dez ônibus foram fretados para levar os moradores de Vigário Geral ao cemitério de Irajá. Cerca de 500 pessoas acompanharam o enterro do traficante.
Sobre o corpo do traficante estavam três camisas: uma do Palmeiras, uma branca com a inscrição "Cristo voltará" e uma vermelha com a inscrição "São Jorge".
A terceira camisa representa uma dupla homenagem. A cor simboliza o Comando Vermelho, facção do crime organizado a que pertencia Flávio Negão, que era devoto de São Jorge -a imagem do santo ornamenta uma das "bocas de fumo" (pontos de vendas de drogas) de Vigário Geral, reduto do traficante.
Antes de ser colocado na sepultura, o caixão foi aberto. Cleonice Pires, mãe do traficante, e a irmã caçula, Márcia Regina da Silva, beijaram o corpo de Flávio Negão. O gesto foi repetido por outros parentes e amigos.
Flávio Pires da Silva, o Flávio Negão, 25, levou seis tiros num confronto com agentes dos Batalhões de Choque e de Operações Especiais da PM. Após o tiroteio, o traficante foi dado como morto ao chegar no hospital Souza Aguiar, às 22h49 de sexta-feira.
O capitão Mário Sérgio, que comandou a equipe do Bope na incursão à favela, estava no carro que levou Flávio Negão para o hospital. Ele admitiu não ter reconhecido o traficante, um dos mais procurados pela polícia no Rio.
Pelo menos 40 coroas de flores foram encomendadas para o funeral de Flávio Negão –oito delas continham mensagens assinadas pelo Comando Vermelho.
O advogado de Flávio Negão, Luiz da Rocha Braz, deve entrar com um habeas corpus preventivo na Justiça, pedindo "proteção" para os parentes do traficante.
Ontem, a favela de Vigário Geral permaneceu de luto. Apenas a principal "boca de fumo"funcionou, com pequeno movimento.
Djalma da Silva, irmão de Flávio Negão, disse que o traficante identificado como Ricardo deverá assumir o controle sobre o tráfico de drogas em Vigário Geral.

*Colaborou PATRÍCIA SANTOS, Free-lance para a Folha.

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