São Paulo, terça-feira, 24 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Índice

Keith Richards percorreu o duro caminho das pedras

MARCEL PLASSE
ESPECIAL PARA A FOLHA

Keith Richards foi o Stone que fez o pacto com o diabo. Tomou todas as substâncias perigosas, gastou-se com nicotina e com mais Jack Daniels do que o corpo humano consegue absorver, e ainda assim chegou aos 51 anos.
As rugas em sua face são cicatrizes de rock'n'roll e marcam uma capacidade de sobrevivência extraordinária.
Ele soube se destruir de maneira elegante. Isso é um título honorário em sua vida. Em julho de 1974, os leitores do jornal inglês "New Musical Express" o denominaram "o ser humano mais elegantemente acabado do mundo".
As histórias são tantas quanto os "riffs" famosos –as prisões por porte de drogas, as transfusões de sangue, o desrespeito por autoridades e celebridades.
Ele diz que não se trata de atitude, mas de blues. Uma forma poderosa de música, que possui força e vulnerabilidade –e cada vez mais se parece com a sua vida.
A voz rouca, o olhar demoníaco e o cigarro sempre aceso misturam-se com a imagem mitológica.
Keith ficou parecido com as lendas do blues, que passou a vida a reverenciar.
Muddy Waters e Chuck Berry continuam no alto de seu altar de adoração.
Ele jura que nunca compôs nenhuma música em sua carreira. Algumas, sonhou –como "Satisfaction". As outras, encontrou no meio de algum improviso, enquanto tocava Buddy Holly ou Otis Redding na guitarra.
Também nunca desencorajou ninguém a imitá-lo, embora avise sobre os riscos de sobrevivência.
Ao contrário do que transparece, ele é uma pessoa afável. Um "gentleman".
Aprendeu a ser bem-educado durante a fase drogada, quando tomou a decisão de não ficar igual aos homens que o trancafiaram. Graças ao velho pacto, Keith escapou de passar os últimos 17 anos numa cadeia canadense, por tráfico de heroína –no período mais desesperado de seu vício, as quantidades de drogas que consumia ultrapassavam as quantidades que poderiam dar prisão por porte.
Apesar de dizer-se limpo e equilibrado, Keith ainda tem seus momentos de combustão espontânea. É melhor não mexer com ele. Quando um fã invadiu o palco durante a turnê de 1981, Keith o agrediu com sua guitarra, porque "ele estava no meu palco".
Nas turnês, o guitarrista ainda age como um vampiro, raramente visto à luz do dia. À noite, tudo pode acontecer, como no início da atual excursão, quando subiu no palco do clube de B.B. King, em Memphis, para pagar sua conta com uns velhos blues.
Aos 51, rico, casado, pai de família, ele ainda adora a música. Ainda deixa a guitarra pendendo o mais baixo possível, quase a seus pés. Ainda briga para definir repertório. Ainda tem fôlego para levar 150 músicas para o estúdio, gravar 40 e ficar inconformado de o álbum "Voodoo Lounge" não ser duplo como "Exile on Main Street".

Texto Anterior: Mick Jagger elevou cantores de rock à elite da sociedade
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.