São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 1995
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Adolfo Lutz condena 115 remédios

GILBERTO DIMENSTEIN ; ALEXANDRE SECCO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O IAL (Instituto Adolfo Lutz) de São Paulo encontrou falhas em 115 tipos de remédios. A lista dos medicamentos condenados foi obtida ontem com exclusividade pela Folha.
Os problemas, identificados entre janeiro e dezembro de 94, vão desde antibióticos ineficazes até um creme vaginal infestado por bactérias.
Há ainda remédios naturais misturados com substâncias químicas e soluções para hemodiálise (filtragem artificial do sangue) contaminadas (veja lista ao lado).
Foram analisadas 1.068 amostras de remédios. As amostras com problemas equivalem a 10,7% das estudadas. No Brasil existem mais de 60 mil tipos de remédios, considerando as várias formas de apresentação de cada um.
As informações constam de dossiê concluído ontem pelo IAL –órgão subordinado à Secretaria da Saúde de São Paulo.
Todos os laboratórios que tiveram amostras de remédios condenadas tiveram prazo para contestar os resultados. Segundo o instituto, nenhum laboratório se manifestou.
O secretário nacional de Vigilância Sanitária, Elisaldo Carlini, disse que "a lista revela que é urgente a necessidade de recadastramento dos laboratórios e o combate aos laboratórios clandestinos".
"A situação é muito grave", afirma do diretor do Departamento de Química e Bromatologia do IAL, Odair Zenebon, responsável pela análise dos medicamentos.
Zenebon disse que muitos exames importantes deixam de ser feitos porque, sem investimento, o instituto não consegue testar todos os tipos de remédios.
Entre os medicamentos pesquisados, há 159 amostras de remédios para o tratamento do cólera. Onze apresentaram problemas.
Um dos casos mais graves foi o da Eritromicina (antibiótico). Em três amostras desse remédio o IAL não encontrou o princípio ativo, no caso, justamente o antibiótico que deveria agir no tratamento da doença. Nessas condições, o remédio é inútil.
"Isso não é grave, é um crime", afirmou o vice-presidente executivo do Sindusfarma (Sindicato da Indústria Farmacêutica), Lauro Moretto. Na sua opinião, "nenhuma falha pode ser contemporizada" quando o que está em jogo é a qualidade dos remédios.
O creme vaginal em que se encontraram bactérias (pseudomonas) é o Nistatina.
O estudo do IAL detectou também problemas em cinco tipos de ampicilinas –antibiótico usado para combater infecções. A substância destinada a combater a doença estava presente no medicamento em quantidade insuficiente. Em consequência, o remédio não surte efeito.
Novas amostras de ampicilinas estão sendo analisadas em um programa nacional pela qualidade desse medicamento. O programa envolve a Fundação Oswaldo Cruz do Rio, o IAL, Funed de Minas Gerais, Lacen do Paraná, IPB do Rio Grande do Sul e ISDF do Distrito Federal.
O secretário Elisaldo Carlini já recebeu um levantamento preliminar sobre 28 ampicilinas analisadas. Ele disse ter ficado "preocupado" com os resultados.
O Ministério da Saúde, através da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, começa a recadastrar os laboratórios farmacêuticos a partir do mês que vem.
O governo suspeita que grande número de laboratórios serão fechados por não atender a exigências de limpeza e técnicas de manipulação.

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