São Paulo, quinta-feira, 26 de janeiro de 1995
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Mar revolto, barco à deriva

A privatização dos bancos estaduais, defendida pelo presidente do Banco Central, Pérsio Arida, é o melhor –se não o único– modo de garantir que não se repitam os imensos desequilíbrios acumulados por essas instituições.
A intervenção federal com a qual se pretende iniciar o processo de saneamento do Banespa, Banerj e Produban é uma boa oportunidade para preparar a transferência ao setor privado. O fato de que o BC cogita intervir em outros bancos estaduais é o atestado de que, longe de ser uma exceção, a desastrosa administração de bancos sob controle estatal constitui regra geral.
Funcionando como se fossem Casas da Moeda de seus respectivos Estados, tais bancos absorvem o resultado dos gastos descontrolados, da incompetência e, em alguns casos, também da corrupção na administração governamental.
Mesmo que se aceitasse o argumento levantado pelo governador paulista de que, bem utilizados, os bancos estaduais podem ser úteis ao desenvolvimento de certas políticas públicas, não se justifica a manutenção do controle estatal. Afinal, nada permite supor que de hoje em diante o Brasil e seus Estados terão somente bons governantes.
Manter o atual setor financeiro estadual é deixar a saúde das contas públicas à mercê de investidas políticas. Trata-se de um arranjo institucional frágil demais. O país precisa garantir de modo mais permanente o equilíbrio orçamentário.
Além disso, a privatização dos bancos é coerente com a imprescindível revisão das estruturas estatais e de seu funcionamento. A absurda demonstração de incompetência do governo (excluída a hipótese ainda mais grave de manipulação) na apuração das contas externas de novembro e dezembro expôs a urgência de uma completa reengenharia do Estado e das máquinas públicas.
Desde as manifestações pelo impeachment de Collor, a demanda de probidade e retidão no trato da coisa pública tomou o primeiro plano na política. Mesmo que sejam atendidas, porém, essas qualidades não bastam. A modernização da economia, os desafios impostos pela competição internacional e a necessidade de consolidar a estabilização demandam mais do que simplesmente "tocar o barco".
A crise mexicana mostrou que, apesar das aparências, a economia é um mar revolto. É necessária uma condução não só reta, mas audaz.

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