São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 1995
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'O México somos nós', diz governo dos EUA

CLÓVIS ROSSI
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

O empenho do governo norte-americano em fazer aprovar o pacote de ajuda ao México é tamanho que uma de suas representantes recorre a uma frase que lembra canção de solidariedade.
"O México somos nós", cantou ontem, em Davos, Joan Spero, subsecretária de Estado para Assuntos de Economia, Negócios e Agricultura dos EUA.
Com essa frase, Spero estava indicando que os 3.200 km de fronteira comum entre o México e os Estados Unidos, mais o fato de os dois países serem "sócios" (no Nafta), torna indispensável aprovar o auxílio de emergência.
A funcionária norte-americana foi crua na avaliação do pacote: "É bom para nós" (os EUA).
Um especialista neutro concorda: "O Tesouro norte-americano vai ganhar com esse pacote", diz o economista venezuelano Moisés Naim, membro do Instituto Carnegie para a Paz Internacional, de Washington.
Naim, que fez ontem um exposição a empresários sobre a conjuntura latino-americana, refere-se às taxas que o Tesouro dos EUA cobrará pelo empréstimo.
Parte do empréstimo, aliás, destina-se a reembolsar instituições nos EUA que perderam dinheiro com a crise mexicana.
Em parte por isso, há vozes no Congresso dos EUA que resistem ao pacote sob o argumento de que se trata de "financiar bilionários".
Naim acha, entretanto, que, "depois de muito ruído", o pacote acabará sendo aprovado.
Mesmo assim, o especialista acha que as consequências já se espalharam. "Ao contrário da crise da dívida de 82, em que o contágio se deu pela vizinhança geográfica do mesmo México, agora o contágio se dá conforme a classificação de risco de cada país", diz Naim.
É assim que ele explica por que foram afetados, na esteira da turbulência mexicana, países tão diferentes e distantes como Turquia, Canadá, Suécia, Itália, Tailândia, Argentina e Brasil.
São todos países com deficiência em um ou vários pontos do que os economistas chamam de políticas macroeconômicas sadias (orçamentos equilibrados, taxa de câmbio mais ou menos correta, déficits externos aceitáveis etc).
"Todo investidor sabe ou deveria saber que grandes ganhos, como os que obtinham nos chamados mercados emergentes, significam também grandes riscos. O problema é que, no México, o que era sensação de risco virou perda de dinheiro", analisa Naim.
Agora, sempre segundo o especialista, haverá uma "fuga para a qualidade", ou seja, para investimentos com pouca possibilidade de oferecer surpresas.

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