São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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Sem RG, refugiados só vêem TV e vão à praia

Após cinco meses, cubanos ainda não têm documentos

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Quatro meses depois do desembarque clandestino em Salvador (BA), cinco dos sete cubanos ainda esperam regularizar sua situação no Brasil para tentar trabalhar.
Os outros dois cubanos que integravam o grupo estão morando atualmente em São Paulo.
Os cubanos chegaram ao Brasil em 29 de agosto passado. O grupo havia fugido de Cuba com destino aos Estados Unidos, mas se perdeu no mar. O navio "Mérida", de bandeira mexicana, trouxe os cubanos para a Bahia.
Cada cubano que está em Salvador recebe R$ 82,00 da Cáritas (organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil). Com a receita de R$ 410 00, os cubanos pagam aluguel (R$ 150,00), condomínio (R$ 70,00) e as outras despesas do apartamento.
O professor de inglês Oswaldo Alvarez, 23, disse que todos os refugiados devem receber carteira de identidade nos próximos dois meses. "Com o documento nas mãos, vamos retirar a carteira de trabalho e sair em busca de emprego", afirmou.
Segundo Alvarez, a situação dos refugiados no Brasil "é infinitamente melhor" do que em Cuba. "No meu país recebia pouco mais de US$ 1 por mês para dar aulas", disse.
O agricultor Eduardo Dias Crespo, 30, disse não estar arrependido da aventura, mas pretende retornar a Cuba: "Estou morrendo de saudades de meu filho de seis meses."
Em Salvador, os cubanos passam os dias na praia, assistindo televisão e jogando cartas. O apartamento alugado para os cubanos é um quarto-e-sala no centro da cidade.
Os móveis da casa (geladeira, fogão, cama e mesa) estão quebrados. No apartamento não há televisão. "Assistimos novelas e filmes na casa dos vizinho", disse Eduardo Dias Crespo.
No mínimo uma vez por mês, o grupo recebe carta dos parentes. "Estamos sabendo que a situação em Cuba melhorou um pouco depois que o presidente Fidel Castro resolveu fazer concessões", disse Mário Aranda, 23. Crespo e Aranda fazem a comida. Os demais se revezam na limpeza.
No último dia 7 de novembro, os cubanos receberam da Polícia Federal um protocolo que os classifica como refugiados políticos. Três semanas depois tentaram fugir para os EUA, mas foram impedidos pela Polícia Federal.

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