São Paulo, segunda-feira, 30 de janeiro de 1995
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Câmbio é problema, diz ministra

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Dorothéa Werneck, ministra da Indústria, Comércio e Turismo, admite que a sobrevalorização do real "é um problema", mas diz que o governo brasileiro dedica no momento "a mais alta prioridade à estabilização da economia".
A afirmação foi feita sábado, em entrevista coletiva num intervalo do Fórum Econômico Mundial, em Davos.
Traduzindo a afirmação de Dorothéa: a política cambial continuará a funcionar por enquanto como instrumento de contenção da inflação, dado que o real sobrevalorizado facilita importações a preços que impedem ou dificultam a alta dos preços internos.
Mas a ministra diz também que o governo vai tentar atender "alguns setores nos quais há alguns problemas".
A principal iniciativa do Executivo produz, no entanto, resultados apenas a médio ou longo prazo. Trata-se de reduzir o chamado "custo Brasil".
Além das reformas constitucionais em itens que incidem sobre tal custo (redução da carga tributária sobre importações e do custo trabalhista para as empresas), a ministra cita duas providências que dependem do Executivo: reduzir os custos portuários e "criar novos mecanismos para alguns setores". Na prática, significa reativar as Câmaras Setoriais, das quais Dorothéa sempre foi entusiasta.
Apesar dos sobressaltos causados pela crise mexicana, a ministra acha que ela acabou sendo benéfica para o Brasil.
"Foi um alerta bastante antecipado", disse Dorothéa à Folha. "Ensinou que talvez não se deva ter déficits comerciais, pelo menos não por muitos meses ou anos."
Durante a coletiva, Dorothéa garantiu: "O governo brasileiro não trabalha com a perspectiva de ter déficit na balança comercial".
É uma posição que colide frontalmente com a de Domingo Cavallo, ministro da Economia da Argentina.
"Essa idéia de que déficit comercial é a pior coisa que pode acontecer a um país é uma idéia do século 19", dispara Cavallo.
Para ele, o que vale é o resultado da conta corrente (que inclui o comércio de bens e também o de serviços).
Mesmo nessa contabilidade, Cavallo introduz o que chama de pergunta-chave:
"É o governo que induz artificialmente um déficit em conta corrente ou o déficit é resultado da confiança na economia de um país, o que atrai investimentos de longo prazo?".
O ministro argentino acha que, na segunda hipótese, o déficit não é condenável.

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