São Paulo, segunda-feira, 30 de janeiro de 1995
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Médicos estudam campanha antiálcool

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A preocupação mostrada pelo Ministério da Saúde com relação ao cigarro deveria se estender às bebidas alcoólicas. A preocupação é de profissionais da saúde que trabalham com dependentes de drogas, entre elas fumo e álcool.
Na semana passada, o ministro Adib Jatene defendeu o aumento do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) dos cigarros e bebidas alcoólicas. Portaria publicada no início do mês impunha restrições à propaganda do cigarro. Ela foi suspensa temporariamente.
Por enquanto, os fabricantes de bebida continuam desobrigados de informar os consumidores sobre os males do álcool. Sabe-se, por exemplo, que 90% das internações hospitalares por dependência são devidas ao alcoolismo.
Não há tarjas de advertência nas garrafas e nas propagandas. "Algumas indústrias estão fazendo isso por iniciativa própria, mas as tarjas são pequenas", diz a psicóloga Ilana Pinsky, da Unidade de Dependência de Drogas da Escola Paulista de Medicina (EPM).
Ilana é autora de uma tese sobre propaganda de bebidas alcoólicas na TV defendida no Instituto de Psicologia da USP em 1994.
Uma das conclusões: a cada hora que passa diante da TV no horário nobre, o brasileiro vê em média uma propaganda de bebida alcoólica. Essa média é três vezes maior que a registrada em levantamentos feitos na TV americana.
Entre junho de 92 e fevereiro de 93, Ilana gravou 90 horas de programação de duas grandes emissoras de TV. De 1.640 propagandas, 76 (4,6%) falavam de bebida alcoólica. O número é maior que o de comerciais de cigarros (3,6%) e de bebidas não-alcoólicas.
Ela acredita que governo, indústria, mídia e pessoal de saúde deveriam procurar um consenso. "É preciso que as medidas sejam democráticas e tenham respaldo científico. Uma tarja na garrafa funcionaria? Não sabemos."
Essa mesma pergunta é colocada pelo secretário de Estado da Saúde, José da Silva Guedes. "As pessoas precisam ser informadas sobre os danos do álcool. Mas será que uma advertência colocada numa garrafa teria alguma eficácia?"

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