São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Língua derruba o Hollywood Rock

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

O Hollywood Rock está mortinho da silva. A língua que serve de logotipo dos Stones é muito mais forte que a marca Hollywood Rock. A língua matou o cigarro.
Como se não bastasse, a qualidade das três atrações que completam as noites até agora mágicas dos Stones é abissalmente inferior à do grupo de Mick Jagger.
Um festival de rock que se preze deveria apostar em bandas novas de qualidade e não olhar para trás e para o antepenúltimo "hype" da MTV.
Os shows do Barão Vermelho têm demonstrado que o rock dos anos 80 virou peça de enciclopédia. Em vez de apresentar um trabalho renovador, o grupo se mostra conformista e repetitivo. Virou verbete de Almanaque. Tem tocado sucessos e deixado a platéia com vontade de ir aos encantadores banheiros do Pacaembu.
O que acontece com o vocalista Frejat? É uma espécie de fóssil de si mesmo, um fragmento paralisado de uma época. Reencarnou o Cazuza (alguém se lembra dele?) de 1982. E as guitarras viscerais da banda não servem nem para fazer um sarapatel. Doem nos ouvidos. Fracas as novas músicas, fraca a possibilidade de amanhã. A banda desistiu do show aos primeiros pingos.
A ausência de Rita Lee preencheria uma lacuna no festival. A cantora tentou fazer um show estilo mulatas do Sargentelli, encheu o estádio de barulho e falsa alegria. Obteve um resultado pífio. Seu repertório –"Jardins da Babilônia", "Lança Perfume" e outros roquetes– já usa fraldas geriátricas desde 1980.
Ela vive a menopausa criativa mais longa da história do feminismo mundial. Desde Sarney, não pára de suar e resmungar. Finge que sorri, mas, no fundo, é uma rabujenta. Devia assumir sua porção Zangado e se levar a sério.
O show agradou aqueles que acham que uma fase boa vem depois de uma ruim. A banda competente fez ontem um feijão com arroz com inventividade de músicos de estúdio. Os mecanicistas vibraram e não dá para saber por quê. Uma pelada no palco não faz um show. Sargentelli usa umas vinte.
Spin Doctors são um caso à parte. Ficam tanto se roçando em jornalistas que se esquecem de agir como uma banda. Ajudam na cobertura, passando informações de cocheira dos Stones, mas tocam como a pior banda do planeta.
Mereciam figurar no rol das bandas do agônico rock brasileiro. O guitarrista toca como Pepeu Gomes, meu Deus do céu! E não sabe afinar a guitarra. O vocalista aprendeu uma música, que canta durante uma hora sem parar, enganando o público que são doze.
Se houver a sétima edição, o Hollywood Rock deve repensar os critérios de escolha. Os Stones provaram que, sozinhos, são melhores do que o festival. Fora deles, só se ouviu tortura chinesa.

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