São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Maluf põe mães e alunos na faxina

CLAUDIO AUGUSTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Dentro de 15 dias, a Prefeitura de São Paulo lançará um projeto piloto em dez escolas que prevê a participação dos alunos na limpeza dos colégios.
As mães dos estudantes, de acordo com o prefeito Paulo Maluf, também farão faxina.
A decisão foi tomada ontem, durante reunião do secretariado. O secretário da Educação, Sólon Borges dos Reis, estava pedindo verbas para a reforma de escolas.
Maluf disse que, além de reformar, a prefeitura deveria conservar as escolas. Sólon afirmou que, no Japão, os próprios alunos limpam os colégios (leia texto ao lado).
O prefeito "comprou a idéia". "Vamos fazer, vamos fazer", decidiu na hora.
No final da reunião, Maluf já anunciou que o projeto piloto entraria em vigor em 15 dias. "Sujou, limpa", disse o prefeito. Para ele, a má conservação das escolas é um problema cultural.
"No ano passado, eu visitei uma escola em Campo Limpo. Uma mãe veio me dizer que a escola estava suja e eu respondi que meus filhos não estudavam lá e nem comiam lá", afirmou o prefeito.
Maluf disse acreditar que a comunidade beneficiada pelo equipamento público deve zelar por ele.
Para o ex-secretário da Educação Mário Sérgio Cortella (gestão Erundina), os conselhos tutelares podem entrar na Justiça contra a medida. "Isto não tem relação com nenhuma atividade pedagógica", afirmou Cortella.
Os conselhos tutelares têm representantes do governo municipal e da sociedade civil. Sua função é fiscalizar o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente na cidade.
Segundo Cortella, "essa é uma terceirização contra a cidadania". Ele disse que a atitude "intempestiva" do prefeito não seria tomada se ele utilizasse recursos orçamentários para conservar as escolas. "No ano passado, ele gastou menos do que estava autorizado em educação."
Cortella disse ainda que os pais dos alunos são contribuintes e podem recusar que seus filhos ajudem a limpar as escolas.
"Não vejo qual é o alcance do projeto", afirmou o ex-secretário. "Talvez o próximo passo seja colocar os pacientes para limpar o hospital."
Ontem, o prefeito disse que a adesão à "faxina escolar" não seria uma imposição. Sólon não adiantou quais são as dez escolas em que começará o projeto piloto.

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