São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Seguros, dados e tendências

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA

No começo deste mês a Editora Manuais Técnicos de Seguros começou a distribuir o seu "Balanço do Mercado Segurador", com os dados referentes ao primeiro semestre de 1994. Publicação básica para quem tem interesse na atividade seguradora nacional, o "Balanço do Mercado Segurador" vai-se consolidando como a mais importante fonte de informações a respeito do setor de seguros brasileiro. E, o que é mais importante, uma fonte isenta, já que ele é composto por uma série de análises, com diferentes enfoques de todo o setor e cada uma das seguradoras.
Como contra números confiáveis não há argumentos, o "Balanço do Mercado Segurador Brasileiro" –primeiro semestre de 1994– deve ser levado muito a sério, porque o que ele mostra é um quadro delicado, com várias seguradoras perdendo dinheiro grosso com o próprio negócio e compensando os seus prejuízos industriais com os resultados financeiros e da correção monetária.
O primeiro dado preocupante é que enquanto no primeiro semestre de 1993 as seguradoras apresentaram um resultado líquido consolidado de mais ou menos US$ 300 milhões, no primeiro semestre de 1994 este número caiu para algo próximo de US$ 160 milhões, mesmo tendo havido um crescimento real de 16% no faturamento do setor.
Mas muito mais grave do que isto é que apenas duas seguradoras grandes e uma média-grande apresentaram resultados industriais positivos. Ou seja, entre as mais de 140 seguradoras em operação no país, das de expressão, apenas três ganharam dinheiro vendendo seguros. Todas as outras perderam e perderam muito, sendo possível se encontrar nos números publicados pelo balanço, vários prejuízos na casa dos milhões de dólares, alguns inclusive superiores a 20% do valor total dos ativos da companhia.
Curto e grosso: a soma do lucro das duas companhias grandes citadas acima equivale a mais de 85% do total do lucro do setor no período, e se colocarmos na conta apenas mais uma companhia, teremos concentrados em apenas três seguradoras mais de 90% do lucro consolidado no primeiro semestre de 1994. Isto num universo integrado por mais de 140 empresas!
De acordo com informações ainda extra-oficiais da Superintendência de Seguros Privados (Susep), que é o órgão federal encarregado da fiscalização da atividade seguradora no Brasil, o mercado deve fechar o ano de 1994 com um crescimento de prêmios bastante expressivo, atingindo patamares acima dos R$ 6,7 bilhões, ou algo próximo a US$ 8 bilhões, o que equivale a um salto de mais de 40% em relação ao seu faturamento em 1993.
Este crescimento, em grande parte acontecido no segundo semestre do ano passado, deve melhorar os números acima, reduzindo um pouco a participação destas três seguradoras e melhorando o desempenho das outras, que deverão apresentar resultados industriais menos ruins.
Todavia este crescimento de prêmios não significa simplesmente aumento das vendas de seguros. Houve um aumento nas vendas, mas houve também um aumento muito maior nos preços das apólices, especialmente nas de automóveis, onde o "dumping" que vinha correndo solto por todo o ano de 1993, foi estancado com a recomposição de custos feita por praticamente todas as companhias no primeiro semestre de 1994.
Os componentes que influem no desempenho de uma seguradora são três: os custos com sinistros, os custos administrativos e os custos de distribuição. Dentro das médias mundiais, os custos com sinistros, muito embora tenham subido e bem, estão em patamares aceitáveis. As distorções ficam por conta das despesas administrativas e de distribuição, que estão 50% acima dos custos praticados nos países mais desenvolvidos.
Com sinistros representando mais ou menos 62% do seu faturamento, despesas administrativas na casa de 30% e despesas de distribuição próximas aos 20%, o mercado tem um prejuízo industrial ao redor de 12% que, dentro de uma economia estável, é impossível de ser compensado com os resultados financeiros.
Ainda por cima, é bom lembrar que este resultado está bastante melhorado pelo peso específico que as duas seguradoras grandes já citadas têm na composição final dos números do mercado.
As consequências desta realidade começaram a surgir ainda em 94. Algumas companhias mudaram radicalmente suas estratégias de vendas, outras encolheram, saneando suas carteiras, outras praticamente pararam de operar. Mas a grande consequência começa a tomar vulto agora.
Uma seguradora de porte médio, pertencente a um grupo com perfil industrial, foi vendida para um dos grandes grupos seguradores nacionais. Espera-se que até o final de 1995 haja uma redução da ordem de 25% no número total de seguradoras operando no Brasil.
Isto não quer dizer que haverá uma quebra generalizada. Muito pelo contrário, esta diminuição deverá significar o fortalecimento das que permanecerem, porque boa parte delas terá incorporado outras empresas, agregando aos seus patrimônios estes ativos, que, bem gerenciados, terão uma enorme capacidade de alavancagem, possibilitando um crescimento de prêmios ainda maior do que o verificado em 94.
As perspectivas para o setor de seguros brasileiro são as mais promissoras possíveis. Nenhum outro ramo econômico tem possibilidades tão concretas de crescimento. Não bastasse a retomada do desenvolvimento do país, que por si só já significa aumento dos prêmios, a reorganização da Seguridade Social, com a transferência para a iniciativa privada de partes importantes dos serviços médico-hospitalares e de previdência, significará a injeção de alguns bilhões de reais por ano, colocando o faturamento da atividade em patamares equivalentes aos dos países do Primeiro Mundo.
O que é preciso ficar claro é que só vai ficar quem for profissional. Acabou-se o tempo em que seguros era um negócio de amigos. Os volumes envolvidos são enormes e o seu gerenciamento não pode mais ser feito tapando-se o sol com a peneira. Acabou-se a era do lucro financeiro e da correção monetária encobrindo os prejuízos industriais.
E esta regra vale também para os corretores de seguros. Não é mais possível um corretor dizer que não sabia da situação de uma seguradora, nem que ele não conhece os produtos oferecidos pelo mercado. Ele hoje tem ferramentas –como o "Balanço", ou o "Guia Nacional de Produtos em Seguros"– que lhe permitem as análises necessárias para o bom atendimento de seus segurados.

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