São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Quito tem pacote de emergência

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O Equador recusou ontem dialogar com o Peru antes de um cessar-fogo incondicional.
Foi uma resposta ao convite por parte do Peru feito ontem ao vice-chanceler equatoriano para que viajasse a Lima para se encontrar com seu colega peruano.
"Não me sentarei, nem um representante meu, à mesa de negociações enquanto não houver um cessar-fogo incondicional", disse o presidente equatoriano, Sixto Durán-Ballén, diante de manifestação de apoio em Quito.
Durán-Ballén disse ontem que os equatorianos "têm direito ao Amazonas e não vamos retroceder nem um só passo".
O presidente peruano, Alberto Fujimori, foi ontem à região do conflito para acompanhar de perto as operações militares.
As informações sobre combates eram desencontradas ontem.
O Equador informou que o Exército peruano havia suspendido os ataques ontem. No dia anterior, equatorianos haviam acusado as Forças Armadas do Peru de praticar uma "ofensiva maciça".
Mas as agências "Ansa" e "EFE", citando militares peruanos, informaram que violentos combates voltaram a ocorrer ontem. Não há informações sobre vítimas.
Os jornais e TVs em Lima, citando informações obtidas junto à militares, anunciaram ontem uma "ofensiva total" por parte do Peru.
O país estaria realizando uma grande mobilização de armas, tropas e equipamentos para a zona de conflito. O Exército peruano estaria usando tropas de elite treinadas para luta antiguerrilha.
Na noite de ontem, o Ministério das Relações Exteriores do Peru emitiu um comunicado dizendo que o país está disposto a tomas "as medidas necessárias para concretizar a pronta suspensão das operações militares na área de enfrentamento".
As Forças Armadas peruanas admitiram terem perdido um helicóptero no domingo, que teria causado cinco mortes.
Foi o primeiro reconhecimento oficial de perdas por parte do Peru desde o início do conflito.
Segundo o Peru, o helicóptero MI-8 teria sido abatido dentro de seu território quando "se encontrava em missão de reabastecimento" às forças peruanas.
O Peru informa ter feito as tropas equatorianas recuarem, recuperando território no vale do rio Cenepa que teria sido invadido nos últimos dias.
O Equador afirma ter derrubado não um, mas dois helicópteros. Nega ter perdido território para o Peru. Os dois países enviaram ontem cartas ao Conselho de Segurança da ONU, nas quais afirmam serem vítimas de agressão.
O governo do Equador havia acusado o Peru de utilizar helicópteros dados pelos EUA para o combate ao narcotráfico em operações militares. Ontem o país voltou atrás e emitiu um comunicado dizendo que isso não era verdade.
O Equador anunciou ontem um pacote de medidas de emergência por causa do conflito.
Dentre elas, estão um imposto de 2% sobre o valor dos automóveis, menor prazo para o repasse do Imposto de Valor Agregado ao governo, cobrança de dois dias de salários aos funcionários públicos e corte de gastos do governo.
Os dois países evacuaram ontem populações da região. A maioria das crianças e mulheres de quatro comunidades indígenas equatorianas já deixaram as áreas fronteiriças. O mesmo está ocorrendo no Peru em cidades tais como Águas Verdes, El Papayal e Lechugal.
Os dois países divergem sobre as baixas. O Equador reconhece ter perdido um soldado, além de seis desaparecidos. O Peru informa sobre 30 mortos equatorianos.
Além do comunicado oficial, essa informação foi confirmada por uma rede de TV peruana, com transmissões da região do conflito.
Os mercados financeiros dos dois países estiveram muito nervosos ontem em consequência da crise. A bolsa peruana caiu 8,1%.
No Equador, houve grandes saques de dinheiro de bancos. As taxas de juros dispararam. O Banco Central do Equador pediu "calma e paciência" e assegurou que não confiscará os depósitos do público.
Peru e Equador retomaram em 9 de janeiro último um antigo conflito fronteiriço, que já havia provocado uma guerra em 1941. O Equador acusou o Peru de atirar em patrulhas militares de seu país.
Os combates se intensificaram a partir do dia 16 de janeiro. O conflito é por causa de uma zona de 78 km na cordilheira do Condor em litígio.

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