São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Equatorianas querem combater na fronteira

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Mulheres equatorianas, muitas delas casadas, expressaram desejo de ir à zona de fronteira para combater o Exército peruano, que o governo equatoriano acusa de ser "agressor e expansionista".
O conflito pela posse do vale do rio Cenepa, numa área não-delimitada da fronteira entre Equador e Peru, despertou no país um enorme entusiasmo cívico.
Milhares de jovens e homens adultos acorrem voluntariamente aos quartéis para empunhar fuzis.
A situação suscita cenas dramáticas em que as lágrimas se confundem com a emoção e os risos nervosos de mães e rapazes que, munidos apenas de pequenas bolsas em que levam seus coturnos e uma troca de roupa, esperam ser deslocados para a zona de guerra.
A Direção de Mobilização do Exército, situada no bairro Batán, em Quito, permanece cercada por centenas de jovens que, a julgar pela algazarra que fazem e seu empenho em serem admitidos primeiro, parecem estar fazendo fila para assistir a uma partida de futebol.
Um pai de 55 anos apresentou-se com seus dois filhos, Jorge Alberto, 17, e José Agustin, 20, pedindo para serem recrutados.
"Vamos lutar na fronteira", disse o pai, revelando que abandonou seu trabalho e sua mulher, além de outros sete filhos. "A pátria vem em primeiro lugar".
Mas quando ninguém esperava por isso, cerca de dez mulheres –algumas das quais mães de família– se apresentaram no mesmo departamento, pedindo para serem levadas à frente de guerra na fronteira com o Peru.
Rosalba Jácome disse: "Sabemos que podemos ser úteis", explicando que algumas das mulheres sabem atirar.
Para Cecília Egas, o Exército deveria ser "menos machista e aceitar a presença das mulheres. "Sou enfermeira e com meu trabalho eu poderia ser muito útil", disse, enquanto procurava falar com algum oficial para pedir seu ingresso nas fileiras militares.
"A guerra não é só para os homens", disse outra. "Muitas de nós sabemos atirar, e se tivermos que morrer não importa, desde que o inimigo não vença".
A Direção de Recrutamento não informou se vai aceitar a presença de mulheres na frente de combate.

Peru
No Peru, centenas de indígenas das tribos que vivem na selva amazônica apresentaram-se como voluntários para o combate contra o Equador.
Os indígenas, armadas com flexas, lanças e dardos, desceram das montanhas para pedir para serem incorporados às forças que lutam na selva.
A eles também se somaram um número indeterminado de nativos Ashaninkas, conhecedores do terreno e que nos últimos anos lutaram contra os grupos guerrilheiros Sendero Luminoso e Movimento Revolucionário Tupac Amaru.
Na zona do conflito, existem inúmeras nações indígenas que viveram por séculos como nômades.

Tradução de Clara Allain

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