São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Um texano encontrou as minas da Internet

MARCELO PAIVA
COLUNISTA DA FOLHA

"Por onde andam as minas?" É a pergunta que mais se fez neste ano de explosão da Internet. No mundo são 50% de homens e 50% de mulheres, não? Mas em qualquer newsgroup, IRC ou site, o mundinho da net, a participação masculina é muito maior que a feminina.
Em um dos newsgroups mais quentes (e desagradáveis), o alt.sex.wanted -newsgroup em que as pessoas se oferecem para suprir carências sexuais alheias-, só dá rapazes, tigrões e coroas enxutos descrevendo suas partes íntimas e contando vantagens. Nada de mulheres.
Alguns chegam a dar as dimensões do dito. Outros apelam para a poesia vulgar. Muitos garantem sigilo àquelas que sejam casadas e desejam uma aventurazinha do outro lado da cerca. O nível do grupo é baixíssimo.
Até o dia que um sujeito mandou uma mensagem perguntando se alguma mulher lia aquilo ou tinha respondido aqueles E-mails. Começou um debate interessante: diziam que as mulheres não respondiam, talvez nem lessem aquele newsgroup, e que isso não tinha a menor importância pois estavam ali para farrear.
Mas o texano Robert Toups, um sujeito muito do sabido, criou um site para que as mulheres mandassem seus homepages pessoais, sem a pornografia sonhada por muitos homens. Deu o nome de "Babes on the Web (http://www.tyrell.net/~robtoups/BABE.html).
Pois não é que foi o maior sucesso? Diariamente, duzentas garotas se inscrevem e mandam o endereço de seus homepages. O sujeito até criou um ranking dos homepages mais interessantes, aqueles que merecem uma visita.
E tem de tudo, das que ainda estão sob o efeito do ácido que tomaram em 68, às que acham que o mundo não passa de um conto de fadas; das que gostam de cachorros peludos às que procuram um bom emprego.
E lá vamos nós, clicando de porta em porta, vendo fotos das minas, lendo o que gostam e o que fazem da vida, tudo em um clima familiar. Enquanto todos esperavam que as mulheres estivessem atentas ao grupo de parceiros tarados, elas apareceram para se exibirem em um WWW bem familiar. Homem não aprende.
Aliás, pensei cá com meus zíperes: o "book" é algo em extinção. Uma modelo, ou fotógrafo, ou artista plástico, ou arquiteto, ou produtor visual, ou ceramista, ou decorador, ou publicitário, não andará mais com seu "book" debaixo do braço, mas com um cartãozinho com o endereço do seu homepage, onde o "cliente" poderá conhecer pela Internet o seu trabalho.

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