São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Escolher significa perder

ROSELY SAYÃO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Sou seminarista, tenho 21 anos. Ainda não tive relações sexuais. Sinto-me tenso e até mesmo anormal. Não posso ter namoradas, não posso ter relacionamento íntimo com as garotas. Sinto uma vocação missionária muito forte mas estou em conflito com o celibato imposto pela Igreja Católica. Estou me sentindo castrado. Sinto desejo de manter relações sexuais com uma garota que paquero às escondidas, mas a repressão ideológica me impede. Com isso tenho que recorrer à masturbação, que também não devo. Que consequências essa situação pode trazer para minha vida sexual e psíquica? Como agir diante dessas questões?"

Você não é nada diferente de muitos da sua idade, meu caro. Pensam que podem ter tudo, que não precisam escolher. Pois saiba que é preciso escolher, sim. E escolher significa também perder. Quando você escolhe uma coisa, ganha a que escolheu, mas perde as outras. Não é assim com tudo?
Lei é lei. A gente pode não concordar, batalhar para que ela mude, mas enquanto for lei vai ter que ser respeitada. E quando se transgride uma lei, pode acreditar, as coisas não ficam bem com sua vida psíquica, não. Claro que não se pode confundir regra com lei, OK? E não estou falando só das leis da sociedade, não. Falo das leis da cultura também. A proibição do incesto, por exemplo, é uma lei da cultura. Muita gente esperneou quando eu escrevi sobre isso.
Acontece que não existe uma justificativa para essas leis. São convenções. E como se pode fazer parte da cultura se não aceitamos as proibições dela? Como seguir sua vocação missionária, como você chama, se você não aceita as leis da sua igreja?
Você vai ter de resolver seu conflito, sim, que não é em relação ao celibato e sim em relação à sua escolha. Pensa bem nas coisas que você quer, no seu projeto de vida. Dá uma olhada para dentro de você para procurar saber se você está escolhendo seu caminho por você mesmo ou se está vendo as coisas com olhar de outros.
A masturbação não prejudica ninguém, seja a pessoa seminarista, crente ou ateu. Quanto a isso você pode ficar tranquilo. Mas lembre: a culpa, sim, pode causar o maior rebu em sua cabeça.
Nossa, hoje o papo foi cabeça! Vamos aliviar um pouco: sexo pode ser muito bom e gostoso; dá alegria e energia para quem pratica sem culpas. Não basta transar, tem que ter responsa e usar a borrachuda!

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