São Paulo, terça-feira, 3 de outubro de 1995
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O Rio e o colunismo social

LUÍS NASSIF

O colunismo social foi peça fundamental na disseminação do modo de vida carioca nos tempos em que o Rio de Janeiro era conhecido internacionalmente como a mais agradável cidade do planeta.
O colunismo ajudou na cosmopolitização da cidade e foi uma espécie de arauto barulhento da internacionalização da economia, quando o país começava a ensaiar seu processo de industrialização no período do pós-guerra.
De longe, Ibrahim Sued -morto anteontem- foi o colunista mais destacado, mas não foi propriamente o pioneiro do gênero. Esse estilo surge nos anos 40, por meio de ``A Sombra", uma revista semanal com padrão gráfico até hoje inigualável no país.
``A Sombra" tinha como editor o jornalista Walter Quadros, também dono de uma loja que ditava o padrão de elegância da sociedade carioca. Como diretor, Aloísio de Salles, gentil-homem de velha linhagem.
Para dar idéia da evolução da vida carioca, no início da década de 40, na casa de Joaquim Salles -pai de Aloísio- reunia-se o mundo político, jurídico e intelectual da cidade, para profícuas rodadas de... biriba e canjiquinha. A guerra traz para o Rio cidadãos do mundo, financistas e intelectuais. No final da década, esses estrangeiros notáveis já haviam incluído o Rio na rota do jet-set internacional.
Por outro lado, a nação agrícola começa a se tomar da febre de auto-afirmação, que, no campo econômico, passa pelo desenvolvimentismo e, no campo das artes, pela afirmação de uma cultura nacional.
É ``A Sombra" que começa a projetar e a renovar os hábitos da sociedade carioca, tendo como figura-chave de seu colunismo Maneco Muller, conhecido por Jacinto de Thormes -este sim, o pioneiro do novo colunismo social. Jacinto deixa de lado o mero registro de nomes e passa a veicular notas curtas, com algum conteúdo crítico.
Coube a ele, por intermédio de ``A Sombra", a consagração do ``Baile das Debutantes" e dos concursos de ``Glamour Girl", iniciativas que bem refletiam o glamour ingênuo daqueles tempos e que tinham o condão de parar o país quando a final era transmitida pela Rádio Nacional.
Modernismo
Não eram apenas futilidades. Com ``A Sombra", a sociedade carioca passa a aceitar o modernismo na arquitetura (com os notáveis irmãos Roberto e Oscar Niemeyer), na decoração (com Carlos Liberal), na pintura (com Di Cavalcanti e Portinari), na música (com Villa-Lobos), na poesia (com Drummond e Bandeira).
A sociedade carioca incorpora em suas festas o elemento negro e passa a se orgulhar de uma recém-criada cultura nacional. Era o clima de Brasil em construção que iria desembocar na febre dos anos 50, que mudaria a face do país.
Não se pense em uma sociedade democrática. Havia o pedantismo de quem recém-conquistara seu título de cidadão do mundo e o preconceito contra os da zona norte, admiravelmente satirizado por Janet de Almeida em seu samba ``Pra que discutir com madame".
Ibrahim surge no momento seguinte. O desenvolvimentismo destruiu o equilíbrio econômico estratificado nas velhas famílias, abrindo espaço para a invasão da sociedade pelos novos empreendedores.
Ibrahim refletia essa nova onda. Conquistou seu espaço com a objetividade de um bucaneiro. De certo modo, representou o apogeu e a vulgarização do ``society".
A partir daí, a vida social carioca cindiu-se entre os verdadeiramente influentes e a fauna dos colunáveis.
Caso Fiat
Há evidências que o vazamento do relatório técnico sobre o motor do Uno Mille não partiu da Cetesb -conforme a coluna informou na sexta-feira passada. A Cetesb tinha o relatório há mais de um mês, sem revelar seu conteúdo.
Nas últimas semanas, o relatório foi insistentemente cobrado pela direção do Ibama. Chegou na sexta-feira ao órgão, depois de o remetente ter solicitado à diretora que mantivesse alguém do lado do fax para preservar seu caráter sigiloso.
No domingo, o relatório já era manchete dos jornais.

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