São Paulo, terça-feira, 3 de outubro de 1995
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Hollywood é novo alvo de Rodriguez

ELAINE GUERINI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Robert Rodriguez, 27, não resistiu aos apelos de Hollywood. Em ``A Balada do Pistoleiro", a continuação de seu ``El Mariachi"', o diretor texano abandona a produção artesanal e gasta US$ 7 milhões em um filme de ação -com direito a cenas banhadas em sangue, explosões e efeitos especiais.
A sequência, que estréia nesta sexta-feira em São Paulo, apenas se baseia na história anterior. De resto, quase tudo mudou (a começar pelo ator principal). O mexicano Carlos Gallardo perde o posto e quem vive o seresteiro-matador é ninguém menos que o espanhol Antonio Banderas, o novo ``latin lover" do cinema.
O filme, agora com diálogos em inglês, ganha um ritmo acelerado. Rodriguez aproveita os recursos hollywoodianos para caprichar nas cenas de ação. Não faltam tiroteios e quedas espetaculares. Banderas chega a atirar-se de um telhado de costas.
O orçamento de US$ 7 milhões pode parecer modesto para o gênero, mas é mil vezes maior que o anterior. ``El Mariachi" (1993) foi produzido com irrisórios US$ 7 mil saídos do bolso de Rodriguez. Quem resolveu apostar no diretor, lançando seu primeiro filme e financiando o segundo, foi a Columbia Pictures.
Com o apoio o estúdio, o cineasta não precisa mais carregar câmeras ou equipamentos de som durante as filmagens -o que não o impede de continuar acumulando funções. Além de escrever o roteiro e dirigir, Rodriguez fez questão de operar a câmera, produzir e montar ``A Balada do Pistoleiro".
O diretor mora em Austin, no Texas, mas passa atualmente uma temporada em Los Angeles, onde cuida da montagem de seu novo filme: ``From Dusk Till Dawn", uma história de terror estrelada por Quentin Tarantino e Harvey Keitel. Leia a seguir os principais trechos da entrevista, concedida por telefone à Folha.

Folha - Depois de ``El Mariachi", um filme em que a criatividade supera a falta de recursos, o que o público pode esperar de ``A Balada do Pistoleiro", um orçamento mil vezes maior?
Robert Rodriguez - Desta vez, eu tive muito mais dinheiro, é verdade. Mas em Hollywood, isso ainda não é o bastante, principalmente quando se trata de um filme de ação. Produções assim custam de US$ 30 milhões a US$ 50 milhões e o valor ainda pode subir muito se o filme for competir com os lançamentos de verão.
No meu caso, com US$ 7 milhões, eu tive que me desdobrar e fazer de tudo para ser o mais criativo possível. Tive que usar todos os truques que aprendi com ``El Mariachi" para fazer a sequência parecer uma grande produção.
Folha - Até que ponto você se preocupou em manter a sequência fiel à idéia original?
Rodriguez - O roteiro se mantém fiel. Eu o escrevi antes do lançamento de ``El Mariachi". Na época, nem imaginava que o primeiro filme pudesse fazer sucesso. Na verdade, os estúdios me descobriram antes do que esperava.
A idéia inicial era mudar a imagem dos mexicanos que só interpretam vilões em Hollywood.
Folha - Comparado com Carlos Gallardo, o ``mariachi" de Antonio Banderas é mais sensual, ousado e violento. Você precisou desses elementos para deixar a sequência comercial?
Rodriguez - Eu sempre soube que para atingir o grande público seria preciso um ``mariachi" com mais paixão e intensidade. E para isso nada melhor que escalar um ator em ascensão em Hollywood.
Então pensei em Banderas. Além de ser o ator latino de maior destaque no momento, ele não tem o nome associado a filmes de ação. E a idéia era justamente criar um novo herói nesse gênero.
A mudança de ator não foi problema já que o personagem reapareceria diferente de qualquer maneira. O jeito mais agressivo é quase natural levando em conta todos os problemas que ele enfrentou no primeiro filme. E Banderas ficou perfeito. Ele não era o ator, era o próprio ``mariachi".
Folha - Já que a idéia inicial era apresentar um herói mexicano, você não se incomodou em deixar os atores mexicanos com os papéis secundários, alguns deles como vilões?
Rodriguez - Infelizmente não existem atores mexicanos famosos. O jeito foi usar um espanhol como líder e colocar Danny Trejo, Salma Hayek, Carlos Gomez e os outros perto dele. Eles ainda não têm espaço em Hollywood porque ninguém dá chance.
Folha - Até que ponto o estúdio interferiu no seu trabalho?
Rodriguez - Quanto mais dinheiro você pede, mais eles interferem. Eu não tive problemas porque o meu orçamento era baixo. Se usasse US$ 30 milhões, com certeza, eles tentariam controlar muito mais. Aposto que eles exigiriam atores famosos até para os papéis secundários.
Quando eles gastam muito em uma produção, querem uma garantia de que terão o dinheiro de volta com juros. No meu caso, prefiro pedir menos e ter mais liberdade.

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