São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995
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Demissões são ajuste às novas tecnologias

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

As montadoras de veículos estão fazendo cortes no número de funcionários para se ajustar aos novos processos de produção.
Esses processos prevêem redução nos níveis de verticalização -a montadora deixa de fazer tudo em casa e terceiriza parte do que produz- e métodos de gestão mais modernos, que economizam mão-de-obra.
Os projetos de novos veículos já são concebidos prevendo o uso de menos mão-de-obra e mais automação.
As afirmações são de José Roberto Ferro, professor do Departamento de Economia da Fundação Getúlio Vargas, especializado na área da indústria automobilística.
``O esquema do contrata-demite-contrata novamente, muito empregado nos anos 70, não pode ser utilizado mais", diz Ferro.
Ele explica que, 20 anos atrás, a mão-de-obra era mais barata e realizava funções mais simples.
Agora, com a sofisticação tecnológica, as montadoras dependem de uma mão-de-obra especializada, que exige muitas horas de treinamento.
As empresas, diz, não fariam cortes apenas para resolver um problema conjuntural de queda de vendas ou de estoques muito elevados.
No caso da Mercedes-Benz, que mandou embora 1.600 trabalhadores nesta semana, Ferro arrisca uma explicação.
``A Mercedes sempre foi uma empresa muito verticalizada. Ao fazer essas demissões, deve ter desativado a fabricação de alguns componentes e terceirizado o processo", diz.
Para Ferro, a queda das vendas pode ter apressado as demissões, ```mas o ajuste teria de acontecer de qualquer maneira".
Ele diz que o caso da Mercedes é parecido com o da Ford. ``A Ford, para fabricar o Fiesta, vai passar por uma reestruturação. Muitos componentes, antes produzidos na fábrica, serão comprados de fornecedores. A diferença é que a Ford expôs o seu plano para o sindicato e está negociando uma saída".
Aumento da produção
Para Ferro, o aumento da produção é a única maneira de a indústria manter o atual nível de emprego.
``O aumento da produção compensaria a perda de postos de trabalho provocada pelas mudanças tecnológicas", diz.
Foi o que ocorreu nos últimos dois anos, lembra Ferro. A produção pulou de cerca de 1 milhão de veículos, em 92, para 1,580 milhão em 94. Mas o nível de emprego não cresceu, apenas se manteve. As empresas se modernizaram, mas não precisaram demitir.
A redução do emprego industrial nas montadoras é ainda mais grave, lembra Ferro, porque a indústria automobilística gera novos empregos em toda uma cadeia produtiva.
No médio prazo, essas demissões vão se refletir no nível de ocupação nas revendas, oficinas mecânicas, postos de abastecimento etc.

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