São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995
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Fim da novela

Contrariando expectativas que, em sua maioria, previam a condenação de O.J. Simpson ou, no mínimo, a criação de um impasse entre os jurados, foi anunciado ontem o veredicto que inocentou o ex-ídolo do futebol americano da acusação de ter assassinado sua ex-mulher e um acompanhante.
Toda a celeuma criada durante os 372 dias de julgamento, cujos depoimentos foram televisionados ao vivo para toda a América do Norte, não pode ser creditada apenas à notoriedade do réu. Sendo Simpson negro e rico, sua saga nos tribunais acabaria esbarrando, inevitavelmente, na delicada história das relações raciais nos EUA.
Poder-se-ia supor, de acordo com o principal argumento da defesa, que uma conspiração racista da polícia de Los Angeles estaria tentando incriminar o ex-jogador.
Mas nada impediria de imaginar também uma conspiração de representantes do ``politicamente correto" -obsessão de alguns setores da opinião pública norte-americana nos últimos anos- que viesse a dificultar a incriminação de um negro. A Justiça conferiu maior credibilidade à primeira explicação.
Contudo, a rígida observância da longa incomunicabilidade imposta aos jurados durante o caso, preservando-os da influência dessas mesmas expectativas majoritárias contrárias à absolvição de Simpson, pode ter constituído um meio eficaz de resistência à tirania que, às vezes, a mídia impõe aos que pugnam pela necessária isenção, sobretudo numa pendência judicial como a que agora se encerra.

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