São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995
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`Rede' de faxineiras atende a cena club

ERIKA PALOMINO; JACKSON ARAUJO
COLUNISTA DA FOLHA

JACKSON ARAUJO
Desencanadas, modernas, fervidas e muito fashion. Assim são as moças que têm a tarefa de arrumar toda a bagunça das casas de gente pouco avessa a coisas no lugar -os clubbers.
As faxineiras da cena club formam verdadeira rede na cidade: são praticamente as mesmas que se revezam para atender a alguns dos nomes do mundinho em SP.
Animadas, as fofas ouvidas por Atitude preferem os lesados clubbers às ``mulheres chatas" e a ``gente séria". Por R$ 30 -mais a condução- elas lavam, passam, cozinham e ainda são dublês de mãe. Vestem-se com as roupas da moda que ganham dos patrões, não se importam com o entra-e-sai de gente, com eventuais namorados em visita, com o fato de todo mundo acordar tarde. Confira aqui algumas tops da limpeza hype.

Maria Tereza Santos, 32, ex-costureira, é a Terezinha. Começou na profissão na loja de vestidos de noiva do estilista e clubber Marcelo Otaviano, 23.
``A costura não tava dando dinheiro", justifica. Otaviano, agora na Europa, indicou Terezinha para o jornalista e clubber Marco Antônio Rangel, 28, que divide apartamento com o DJ Alfred, 36. Por sua vez, eles indicaram Terezinha para o estilista, programador visual da marca Zapping e clubber Rogério Hideki, 27. Que mora com Marcos Ueda, 32, professor de alemão e clubber.
``Liguei, ela veio e eu adorei", diz Marco Antonio, que há dois meses tem Terezinha semanalmente em casa, agora com cópia da chave e tudo. ``Já fiz comida, mas eles não comem nunca em casa. E além do mais quase nunca eu vejo a cara deles", brinca Terezinha.
Casada e mãe de dois filhos, Terezinha os chama de ``meninos": ``Eles são muito dependentes e eu sou muito mãezona". Outro denominador é a falta de preconceito em relação ao estilo de vida dos patrões. Maria Aparecida dos Santos, 36, chamada de Cida onde trabalha, não se choca com os cabelos coloridos nem com as roupas da dupla de estilistas Heitor Werneck, 30, e Paulo Modena, 29, da Escola de Divinos. ``Eu adoro o jeito deles. Um barato. Sempre trabalhei com pessoas assim, estranho é trabalhar com pessoas mais fechadas".
Cida veio da Bahia há dez anos com o marido. Em São Paulo, trabalhou em casa de família, depois montou um bar e depois diarista.
Há dois anos Heitor detém o poder sobre Cida, de segunda a sexta, pagando um salário de R$ 300 por mês, com carteira assinada. Na casa deles, Cida lava, faz comida e limpeza com muito prazer: ``Chato é lavar azulejo".
Outro fundamamento da rede de faxineiras clubber é que elas podem ser ``emprestadas". Cida, por exemplo, foi emprestada pelos dois para o estilista clubber Cacá di Guglielmo, 27. ``Mas só aos sábados", reforça Paulo.
Cida está emprestada para Guglielmo há três meses, onde trabalha uma vez por semana. ``A gente não vive sem a Cida aqui", diz Cacá, que divide o apartamento -conhecido no meio underground como ``Trash Minas"- com os mineiros Rodrigo Amantea, 24, analista de sistemas, e Luma Assis, 31, programadora visual.
``Na sexta a casa vira bagunça porque a gente sabe que a Cida vem no sábado", explica Cacá. ``Arrumo a sala, a cozinha, o banheiro e depois os quartos quando eles acordam, lá pela uma hora", conta Cida, que não se sente a dona da casa, mas ``a responsável".
O tratamento maternal de Cida conquistou Rodrigo, que chama a faxineira de mãe: ``Eu falo que ela é minha mãe porque arruma minha bagunça e diz que sou porco, como minha mãe dizia."
O relacionamento entre eles é tão familiar que ela chega até a aconselhar Cacá a não fazer um piercing entre as sobrancelhas: ``Faz mal pra vista, menino".
A história de Helenice Ferreira, 38, a Lena, começa há 22 anos, quando fugiu da casa dos pais no interior do Paraná e foi adotada por uma senhora chinesa na praça da Sé. Sua maratona como faxineira hype começou há três anos na casa do ator Rubens Caribé, 30. ``Uma quinta que a Lena não vem, acaba com a minha vida", diz Caribé, que dividia apartamento com o produtor de moda e clubber César Fassina, 32. Fassina indicou Lena para o promoter e clubber André Hidalgo, 30, e para o estilista Alessandro Tierni, 24. Lena trabalha ainda para o DJ Zozó, 25, e para Bernardo de Aguiar, 30, designer gráfico e clubber. Sua mais nova casa é o apartamento do promoter e clubber Roque Castro, 28.
``Não trabalho mais em casa de mulher, elas são muito chatas e tão sempre pegando no pé, vendo defeito em tudo. Na casa dos rapazes se fiz a faxina e gostei é como se fosse na minha casa -eles vão gostar também."

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