São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cresce a fila para visto de entrada nos EUA

LUCIANA VEIT
DA REPORTAGEM LOCAL

Última quarta-feira, dia 27, 8h. O Consulado Geral dos Estados Unidos começa a atender os interessados em um visto de entrada para o país. Uma fila cruza a esquina da rua Padre João Manuel -onde fica o consulado- com a alameda Lorena, chegando até a outra esquina. São cerca de 700 pessoas, segundo a Polícia Civil.
Os que conseguiram ser atendidos chegaram por volta das 22h30 do dia anterior (leia reportagem pág. 6-19) ou compraram lugar.
A fila já se tornou uma instituição, aumentando sempre nos períodos próximos às férias. Mas, desde junho, quando o consulado ampliou a validade do visto -de três meses para dez anos-, o movimento aumentou.
Segundo a polícia, até maio a procura estava normal. Consulado, polícia e despachantes acreditam que muitas pessoas, temendo que o prazo seja revisto, estão se dirigindo ao consulado mesmo sem terem viagem marcada.
A fila é formada por uma população diferenciada: vendedores de lugar, despachantes, funcionários de agências de viagens e quem vai viajar.
Um comércio também já se desenvolveu na redondeza. Vende-se folha de zona azul -R$ 3 a de duas horas, vendida nas bancas por R$ 1,70- até a taxa para o visto (US$ 20), que deve ser paga no Citibank.
Os preços oscilam de acordo com o horário. A taxa do visto que custava R$ 35 na madrugada foi oferecida, às 9h, por R$ 25.
Mas é a venda de lugares que causa confusão. As histórias contadas na fila têm muitas versões. Como a de um "agenciador" que leva mais de dez jovens para guardar lugares que serão vendidos, dos despachantes que trazem pilhas de formulários e a dos falsificadores de senhas.
Para "moralizar" a fila foi instituído um sistema de senhas, que não conseguiu impedir a venda de lugares.
As senhas são distribuídas em três turnos: pelos "organizadores" -quando a fila começa a se formar-, pelos despachantes ou funcionários de agências de viagem -que trocam as senhas por outras-, e, às 6h, pela polícia, que distribui a senha definitiva.
Teoricamente é mais fácil comprar um lugar de madrugada, quando é distribuída a primeira senha. Custa, em média, R$ 100. Mas, mesmo de manhã, com a presença da polícia, oferecia-se lugar no fim da fila.
O consultor Pedro Maschio, 31, chegou às 7h30 e ficou no final da fila. Sem senha (foram distribuídas 450), ele conta que por volta das 9h ainda havia gente passando e oferecendo lugar por R$ 80.
Maschio, que pretende ir a um congresso em Orlando em outubro, reclama da desorganização. "Deveria haver uma prioridade para quem vai viajar logo ou ampliar o horário de atendimento", diz o consultor.
Roberto Fonseca, 41, funcionário de uma agência de viagem frequenta a fila há oito anos.
"Chego normalmente às 23h30 e fico na fila. Às 19h já têm de 25 a 30 pessoas. O cliente chega às 5h, pega o lugar e a senha da polícia", diz ele.
Um visto feito em uma agência custa R$ 80, incluída a taxa de US$ 20. Segundo Fonseca, foram os despachantes e os funcionários de agências -"culpados por tudo de ruim que acontece- que começaram a distribuir as senhas.
Atualmente, uma viatura da Polícia Civil fica estacionada em frente ao consulado. Responsável pelo policiamento, o tenente Alexandre Cezar, 24, diz que o problema da venda foi resolvido com a distribuição de senhas.
Ao distribuir a senha, a polícia retira da fila quem não tem passaporte.

LEIA MAIS
Sobre a fila para obter o visto de entrada nos Estados Unidos na pág. 6-19

Texto Anterior: Igreja de Santa Efigênia
Próximo Texto: Consulado nega mudança no prazo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.