São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995
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Chiado é o coração da `Lisboa literária'

JOSÉ GERALDO COUTO
DO ENVIADO ESPECIAL A PORTUGAL

Poucas cidades do mundo foram tão amadas e cantadas por seus escritores quanto Lisboa. A começar por Luís de Camões (1524-80), o maior poeta da língua, que, no canto 3 de ``Os Lusíadas", assim a evoca: ``E tu, nobre Lisboa, que no mundo/ facilmente das outras és princesa".
O amor entre os poetas e a cidade é recíproco. Se as marcas de Lisboa são visíveis nas obras de autores como Camões, Eça de Queiroz (1845-1900), Fernando Pessoa (1888-1935) e José Saramago, 73, também a cidade eternizou em ruas e praças as pegadas de seus escritores mais ilustres.
Um passeio por essa ``Lisboa literária" pode começar justamente pela praça Luís de Camões, mais conhecida como largo Camões, no coração do mais literário bairro lisboeta, o Chiado, nas ladeiras, a meio caminho entre a Baixa e o bairro Alto.
O nome do bairro, aliás, homenageia um poeta do século 16, António do Espírito Santo, que trocou o hábito de frade pela poesia e ganhou o apelido de Chiado (malicioso) por seu espírito galhofeiro.
Nessa região sentimos a cada passo a presença da literatura.
No próprio largo Camões, em cujo centro está a estátua de bronze do poeta, erguida em 1867 pelo escultor Vítor Bastos, se desenrola o desfecho de ``O Crime do Padre Amaro", de Eça de Queiroz.
Diante da praça, descendo em direção à Baixa, temos o largo do Chiado (com a estátua do poeta) e a rua Garret (outro grande escritor), com seus cafés e livrarias frequentados por Eça, Pessoa e todos os literatos há mais de um século.
Entre os cafés, o mais famoso é A Brasileira; entre as livrarias, a Bertrand, fundada em 1732, é até hoje a melhor da cidade.
Se, em vez de seguir a rua Garret, viramos no largo Camões em direção ao Tejo, descendo a rua do Alecrim, depois de uma quadra estamos no largo do Barão de Quintela, em cujo centro está o monumento a Eça de Queiroz, erigido em 1903 por Teixeira Lopes.
Se, em vez disso, descemos do largo do Chiado pela rua Duque de Bragança, chegamos a outro ponto crucial da ``Lisboa literária", o largo São Carlos (ou do Diretório), onde, no número 4, nasceu Fernando Pessoa, e onde está o Teatro São Carlos, erguido em 1793 à glória da princesa Carlota Joaquina.

Aldeia de Pessoa
``O sino da minha aldeia", diz Pessoa em carta a um amigo, ``é o da igreja dos Mártires, ali no Chiado. A aldeia em que nasci foi o largo de S. Carlos".
Se, ao escrever em seu próprio nome, Pessoa mostra sua ligação especial com o Chiado, o poeta deixou seu rastro por praticamente toda Lisboa, pela voz de seus vários heterônimos.

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