São Paulo, sexta-feira, 6 de outubro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
`Minha Estação' expõe afetos e incertezas
CARLOS ADRIANO
Direção: André Téchiné Elenco: Catherine Deneuve, Daniel Auteuil, Chiara Mastroianni Estréia: Espaço Banco Nacional A estação preferida do diretor André Téchiné (de "Rosas Selvagens), ao menos no filme que estréia hoje, é a da simplicidade da "mise-en-scène. "Minha Estação Preferida (1993) passa longe do maneirismo afetado que impregnou um certo cinema francês recente. No filme, rodado em luminoso cinemascope com um olhar íntimo e distanciado, o ritmo ralenta, a tela se alarga, para a passagem do tempo, mote da própria história. Os irmãos Emilie (Catherine Deneuve) e Antoine (Daniel Auteuil) confrontam-se com suas existências quando a mãe (Marthe Villalonga) passa a sofrer vertigens agravantes. O dilema: a mãe não pode mais morar sozinha, e, se não pode viver com a filha (casada) ou com o filho, terá que ir para um asilo. À perspectiva da morte, abre-se a temporalidade dos afetos: pendências do passado e angústias do futuro pesam sobre os irmãos. Apesar de bem resolvidos em suas carreiras (ela, advogada; ele, neurocirurgião), são desajustados. Pelos enrolados laços de família (com várias gerações em conflito: a da mãe, a dos dois irmãos, a dos filhos de Emilie), passam questões mais amplas (campo x cidade, no idílio da vida ideal; antigo x moderno, na luta da realização profissional). Como as estações, o filme se divide em 4 intertítulos -a partida, o passo em falso, o passo seguinte, o retorno- que sinalizam os ciclos da vida. Téchiné elege o instante frágil das incertezas para se buscar alguma certeza. A passagem da vida à morte (mental, afetiva, física) surge como precário momento de (auto-)conhecimento. Téchiné adora a idéia de que "o passado é sempre construído no presente. Nascido em 1943, ex-redator dos ``Cahiers du Cinéma", Téchiné criou um discreto dispositivo para frustrar as preferências apriorísticas do expectador, escapando do melodrama que o tema sugere. "Minha Estação Preferida vê o tempo como duração da dor, onde "o duro é dar sentido ao que se faz (como diz Antoine). A vida não é tempo suficiente. Texto Anterior: Comédia segura o prestígio de Bullock Próximo Texto: Record quer ``Além de Cidadão Kane" Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |