São Paulo, sexta-feira, 6 de outubro de 1995
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País sem ódios

JOSÉ SARNEY

A pior de todas as formas de violência, se é que existe violência pior, é sem nenhuma dúvida o terrorismo. Ele visa a um fim que, quanto mais brutal, mais terá alcançado seu objetivo. O terrorismo é dirigido contra instituições as mais diversas, mas sua ação se faz sentir sempre e somente contra os inocentes, suas eternas vítimas. É obra de desesperados ou de fanáticos, de loucos ou de criminosos. É no fundo uma manifestação patológica de indivíduos ou de grupos deslocados da sociedade. Infelizmente, não tem sido tão rara como forma de manifestação política. É destinado, no seu intuito final, a provocar um estado coletivo de medo, a forçar governos e pessoas a cederem diante da possibilidade do pior.
Lembremos as Olimpíadas de Munique, o aeroporto de Roma, a Torre de Nova York e Oklahoma. O Brasil como corpo social, com sua cultura da cordialidade, fundada na sanidade mental, cuja identidade está marcada pela alegria, por um certo hedonismo bastante salutar, nunca foi terreno fértil para o terror.
Já na velha Europa, em alguns países sua face oculta se manifesta quase diariamente. Helmut Schmidt, um dos maiores estadistas deste século, consumiu seu talento no combate ao grupo de Baden Meinhof durante quase todo o seu governo. A Espanha tem tido poucos momentos de tranquilidade, com os separatistas bascos e os resíduos de um ódio escondido que são restos da Guerra Civil.
Mas o grande foco, o grande movimento terrorista do nosso século, que pode se confundir como uma força regular de atuação de guerra, foi o gerado pelo conflito árabe-israelense. Ele se tornou universal, abrangendo todas as áreas e regiões da Terra. Com as perspectivas de paz no Oriente Médio, parece que arrefeceu, transformado agora, com a criação do Estado Palestino, em uma luta de fanatismos, num corpo-a-corpo que somente o tempo será capaz de acabar. O coronel Gaddafi também saiu do noticiário.
A França, durante algum tempo, foi um território respeitado, porque se dizia que ali não havia uma política de prevenção e combate sistemático às ações contra a luta palestina. Mas foi apenas por algum tempo. Hoje, o território francês encara a mesma paisagem do terror e vive um período de inquietação. O Japão enfrenta uma atmosfera diferente desse tipo de violência. É o terrorismo do fanatismo, do culto da morte, da destruição do homem e da vida.
Graças a Deus, a América Latina ficou fora do campo de atuação do terror, somente abalada pelos fatos acontecidos na Argentina ano passado, com a explosão na Associação Mutual Israelita. No resto, foram obras de loucos, sem maiores consequências.
O Brasil sempre esteve fora dessa tragédia. É por isso que esse fato da carta-bomba do Itamaraty choca e causa grande revolta. Não é preciso que se faça muita especulação para chegarmos à conclusão de tratar-se de gesto de insanidade individual. O país vive um clima de completa liberdade. Nada justifica qualquer ato de violência organizada para semear o medo.

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