São Paulo, sábado, 7 de outubro de 1995
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Método adequado

JANIO DE FREITAS

Com a ameaça proferida pelo ministro da Fazenda na Câmara, afinal descobre-se algo em comum entre Pedro Malan e José Serra: ambos preferem a chantagem como método de obter a prorrogação, pelo Congresso, do desmoralizado Fundo Social de Emergência -FSE. Na tentativa de fazer com que governadores e prefeitos pressionem os congressistas, Malan aderiu à tática, lançada por Serra, de brandir o corte de R$ 4 bilhões nos investimentos em Estados e municípios, se o FSE, improrrogado, acabar no prazo jurado por seu lançador, o então ministro Fernando Henrique.
Na verdade, não faz a menor diferença que haja o corte ou não. Primeiro, porque investimentos inscritos no Orçamento não são efetivados obrigatoriamente, tanto que o governo vem retendo, ao longo do ano, inúmeras verbas até de atividades consideradas essenciais. E, com toda a certeza, fará o mesmo no ano que vem, porque prefere, para aproximar despesa e receita, cortar verbas a usar de rigor verdadeiro contra os sonegadores que emagrecem a arrecadação de impostos.
Além disso, a ameaça não faz diferença, porque, se a população não perdesse em investimentos nas suas regiões, de qualquer modo perderá em coisas muito mais importantes, se prorrogado o FSE. Esse fundo, cujo nome caracterizou o conto-do-vigário que ele se revelou, deixa 20% do Orçamento sem finalidades definidas, ou seja, para uso à vontade do presidente e dos ministros da Fazenda e do Planejamento. E de onde esse dinheiro imenso é desmembrado? Da Educação. E da Previdência. E da Saúde.
No nome, emergência ainda não se soube a que veio. Mas o resto é claro. O dinheirão entra em um saco sem fundo. E sua finalidade mais conhecida foi a vida social: as festanças do Itamaraty, os jantares e almoços no Alvorada, chuteiras e camisas de futebol, presentes, o cuidado de florir as imediações do casal presidencial e tudo o mais que, no mesmo gênero, transformou o Fundo Social de Emergência em imoralidade. Com o que o recurso à chantagem fica muito apropriado.

O sinal deles
Sob as bençãos do Ministério das Comunicações, a Telerj (e, se ainda não as outras telefônicas, logo também elas) está comunicando aos clientes que não mais emitirá contas inferiores a R$ 10,00, ``com isso economizando a emissão de contas mensais muito baixas, que não compensam os gastos envolvidos". Gastos em papel, digitação, impressão e entrega.
Mas, no parágrafo seguinte, avisa que os clientes, ``a cada mês, receberão um extrato com a prestação de serviços, apenas para conferência". O extrato só exige gastos em papel, digitação, impressão e entrega. Igualzinho à cobrança. Com a diferença de que a empresa gasta o mesmo e só recebe muito mais à frente.
Por menos que se esteja atento, sempre se é forçado a notar que estamos sob o governo dos ``inteligentes".

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