São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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Governador de Minas foi quem mais gastou

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As campanhas eleitorais dos governadores dos 13 Estados pesquisados pela Folha custaram R$ 44,1 milhões. O governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo (PSDB), fez a campanha mais cara -arrecadou sozinho um quarto do total.
O tucano conseguiu R$ 11,4 milhões em doações registradas. Ultrapassou em mais de R$ 1 milhão o segundo colocado, o governador de São Paulo, Mário Covas, também do PSDB.
A diferença é que São Paulo tem 20.774.991 eleitores, e Minas possui praticamente a metade -10.559.739 eleitores, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) de 1994.
Azeredo, por intermédio de sua assessoria, disse que ``a clareza e a sinceridade" de sua prestação de contas são o motivo de a campanha aparecer como a mais cara.
``Em Minas, um Estado com 756 municípios e dimensões semelhantes às da França, os gastos nessa área são necessariamente muito grandes, o que demonstramos, com toda a fidelidade, nos documentos entregues e aprovados pelo TRE (Tribunal Regional Eleitoral) mineiro", completou.
A prestação de contas de Covas também foi aprovada pelo TRE de São Paulo. Mas pelo menos um dado chama a atenção. O governador não registrou nem um centavo da empreiteira Andrade Gutierrez.
Apesar de ter sua sede em Minas, praticamente a metade do faturamento da empresa está concentrada em São Paulo. Enquanto Covas não declarou contribuições da empreiteira, Azeredo registrou R$ 3 milhões da construtora -a maior doação de uma empresa a um candidato a governador.
A Folha entrou em contato com a assessoria de imprensa de Covas. O governador não quis se pronunciar. A maior doação para o paulista foi feita por outra empreiteira, a OAS, que deu R$ 620 mil.
Na prestação de contas do governador do Paraná, Jaime Lerner (PDT), também há um caso de não doação que intriga. O PDT e o PTB do ministro da Agricultura, José Eduardo de Andrade Vieira, se coligaram na eleição.
Vieira é dono do banco Bamerindus. A instituição não deu contribuição alguma à campanha. O senador Roberto Requião (PMDB-PR), adversário político de Lerner, considera o fato ``a consagração da hipocrisia".
O assessor de imprensa do governador Lerner, Nelson Martins, contesta, afirmando que a prestação de contas foi rígida. ``Não há contribuição do Bamerindus simplesmente porque não foi preciso", disse.
Não foi só em São Paulo e em Minas que os maiores investimentos partiram de construtoras. Elas gastaram R$ 20,8 milhões nos 13 Estados. Na eleição para o Congresso, as doações desse setor foram bem menores -R$ 5,4 milhões-, o que comprova a preferência pelo poder que executa as obras.
As empreiteiras foram também as responsáveis pelas maiores doações das campanhas dos governadores do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), de Rondônia, Valdir Raupp (PMDB), do Pará, Almir Gabriel (PSDB), e do Espírito Santo, Vitor Buaiz (PT).
A radiografia das contribuições mostra a influência não só das empreiteiras, mas do poder econômico como um todo nas eleições. Em 11 dos 13 Estados, as dez maiores doações representam mais da metade do que foi arrecadado.
No Rio Grande do Sul, dez empresas doaram 74,4% do total arrecadado na campanha do governador Antônio Britto (PMDB). No caso da Paraíba, as dez maiores contribuições representam 80,19% do que foi recebido pelo governador Antônio Mariz (PMDB), que morreu no início deste mês.
A maior contribuição para o governador da Bahia, Paulo Souto (PFL), veio do Banco Econômico.
Souto recebeu R$ 921 mil do banco. Quando o Econômico sofreu intervenção do Banco Central, em agosto, ele foi um dos que mais se empenharam em salvá-lo.
Além de ter ajudado a eleger o pefelista, o Econômico é também o protagonista de uma das maiores ironias das prestações de contas.
O banco doou R$ 150 mil a Covas. O governador de São Paulo foi um dos mais ferrenhos críticos da proposta de estatização do banco e de seu autor, o senador baiano Antônio Carlos Magalhães (PFL).

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